Título: Para governo, pior da inflação já passou e meta deverá ser atingida em 2012
Autor: Safatle, Claudia
Fonte: Valor Econômico, 09/05/2011, Brasil, p. A2
De Brasília A inflação convergirá para o centro da meta de 4,5% em 2012 se o nível da atividade econômica permanecer ainda por um bom tempo, algo como nove a 12 meses, crescendo abaixo do Produto Interno Bruto (PIB) potencial. Não há uma conta cravada sobre o produto potencial, mas o consenso de mercado é que ele gira em torno de 4,5%.
A variação do IPCA em abril, de 0,77%, ficou aquém das expectativas e foi uma boa surpresa. Na visão do governo, o pior da inflação já passou. A partir deste mês os índices serão mais confortáveis. No acumulado de 12 meses, porém, o índice bateu no teto em abril (6,51%), deve superar o teto nos próximos meses e voltar a cair a partir de agosto/setembro.
Nos próximos meses, o quadro inflacionário será dúbio por razões estatísticas. O IPCA mensal será bem menor, na casa dos 0,4% ou menos, mas se defrontará com as taxas muito baixas do ano passado, quando a inflação foi zero em junho, 0,01% em julho e 0,04% em agosto. Isso levará o IPCA de 12 meses a superar o teto da meta por alguns meses, tal como ocorreu em 2005.
Está nas contas do governo a possibilidade de um aumento da inflação no último trimestre deste ano e no primeiro trimestre de 2012. Além de este ser um comportamento padrão no ano, desta vez pode ocorrer uma pressão dos dissídios coletivos concentrados em setembro, se a tendência for balizar as negociações pelo reajuste do salário mínimo do próximo ano, em torno de 14%. Espera-se que essa elevação seja temporária, movida por sazonalidades.
No segundo semestre de 2010, o crescimento da economia ficou por um rápido período abaixo do potencial. O crescimento foi de 0,4% no terceiro trimestre, mas subiu para 0,7% no fim do ano. No primeiro trimestre deste ano, a taxa de crescimento do produto aproximou-se mais de 1% e, segundo a expectativa de economistas do governo, deve recuar a partir de agora.
Isso não significa que a política de aperto monetário pode ser afrouxada. Embora os indicadores de preços, a acomodação dos preços das commodities internacionais e os sinais de desaquecimento da demanda tenham deixado o governo mais confiante nos últimos dias, "o Banco Central não vai tirar férias coletivas", comentou uma fonte.
O cenário internacional continua incerto e, na semana passada, ocorreu um fato curioso. Após reunião do Banco Central Europeu que decidiu pela manutenção da taxa de juros em 1,25% ao ano, o presidente da instituição, Jean-Claude Trichet, declarou que o BCE está incorporando a situação da taxa de câmbio em suas análises. Fez isso após numa iniciativa incomum, ler em voz alta as declarações recentes do presidente do Federal Reserve Bank, Ben Bernanke.
A valorização de 9% do euro frente ao dólar estaria na raiz do adiamento da elevação dos juros na Zona do Euro, depois de um aumento de 0,25 ponto percentual na reunião do BCE em abril. Apreciação que decorre da montanha de dólares que o governo americano está jogando no mundo, inundando a liquidez internacional e depreciando sua moeda.
As palavras de Trichet chamaram a atenção de alguns economistas brasileiros, pois coincidem exatamente com o que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem dito. Conferem também com os argumentos do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, de que a questão cambial hoje é inflacionária. Na medida que o imenso fluxo de dólares entra no país, gera expansão do crédito e alimenta a demanda, ela acaba neutralizando os efeitos das políticas monetária e fiscal.