Título: Para Chalita, condição de puxador de votos protegerá mandato
Autor: Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 09/05/2011, Política, p. A7

De São Paulo Dono da terceira maior votação no país para a Câmara dos Deputados em 2010, Gabriel Chalita (SP) vai usar os 560 mil votos recebidos como argumento para não perder o mandato de deputado federal quando migrar para o PMDB, em 4 de junho. O PSB, partido ao qual está filiado, pretende pedir sua cadeira assim que mudar de legenda. O parlamentar alegará à Justiça Eleitoral que ajudou a puxar votos para a bancada na eleição passada. Politicamente próximo dos irmãos Cid e Ciro Gomes, dirá também que foi vítima de boicote, isolamento e discriminação do presidente nacional do PSB, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e do presidente do diretório paulista, o secretário estadual Márcio França. O deputado deixa o PSB para candidatar-se à Prefeitura de São Paulo pelo PMDB, em ação articulada pelo vice-presidente da República, Michel Temer. Aos 42 anos, será sua terceira disputa eleitoral em quatro anos. E pelo terceiro partido diferente. Antes do mandato na Câmara, Chalita elegeu-se vereador em São Paulo pelo PSDB.

A seguir, os principais pontos da entrevista ao Valor, na sexta-feira.

Valor: Está certa sua filiação ao PMDB? O senhor será candidato à Prefeitura de São Paulo?

Gabriel Chalita : A filiação está acertada e será em 4 de junho. Sou pré-candidato. É uma honra. O lançamento [da pré-candidatura] será no ano que vem.

Valor: Por que decidiu migrar?

Chalita : Quando saí do PSDB e fui para o PSB, imaginava que eu fosse ajudar a construir um partido em São Paulo, que fosse ter voz ativa. Infelizmente não tive o espaço que imaginava. Não quero ser discriminado por um partido. O PSB não me deu espaço, nem no [diretório] nacional nem no estadual, nem no municipal. Também não participo da Executiva. O governador [do Ceará] Cid Gomes me lançou para ser o líder do partido na Câmara, mas o presidente do PSB colocou a mãe dele [Ana Arraes] como líder. Fui o mais votado do país... Então achei que precisava buscar outro espaço. Acho que errar faz parte e errei na escolha do PSB. Não tenho que continuar no erro.

Valor: Qual era sua expectativa?

Chalita : Queria ajudar a construir um partido, fundá-lo no interior, a ajudar na filiação. No PSB é tudo provisório. A ideia era que teríamos um partido real, trazendo jovens, universitários e intelectuais, pegando um espaço que há hoje na universidade. O PMDB um dia ocupou esse espaço entre os universitários, nos diretórios acadêmicos; o PSDB ocupou e o PT também, mas hoje esse espaço está vazio. Trabalho em várias universidades, dou palestras... Mas não tenho nenhum espaço dentro do PSB para nada, para discutir, para trazer uma pessoa. Eu queria presidir uma comissão no Congresso, mas também não tive espaço. Pela votação que eu tive, merecia ser tratado de outra forma. A [Luiza] Erundina também não é tratada como deveria. É uma pena. Em São Paulo o PSB é de um dono e nacionalmente é de outro dono. Não vou ficar aqui.

Valor: Então a sua divergência não é só com o diretório estadual?

Chalita : Não, é com o Eduardo [Campos] também. Ele deveria minimamente respeitar os deputados do PSB e falar o que estava acontecendo quando estava conversando com o [Gilberto] Kassab, que havia uma possibilidade de fusão. Você tem que se sentir parte do partido. Estou no PSB há um ano e meio e não teve reunião. Teve uma reunião, com os deputados eleitos, mas muito protocolar. E mais nenhuma. Não tenho espaço de construção das minhas ideias, de propostas e é isso o que eu busco no PMDB.

Valor: O senhor não teme perder o mandato ao migrar de partido?

Chalita : Não. Vou defendê-lo na Justiça. Tive mais votos que o coeficiente eleitoral. Eu ajudei o partido. O PSB me convidou para disputar o Senado, me lançou e depois inviabilizou a minha candidatura. Disse que teria mais tempo de televisão para fazer uma bancada e não tive nada disso. Ainda assim consegui ter mais votos do que o necessário para me eleger. Estou construindo juridicamente essa tese. São vários argumentos jurídicos para mostrar que eu não fazia parte do PSB e que eu não recebia o tratamento que eu deveria ter recebido do partido. Tenho certeza de que vou sensibilizar a Justiça e de que não vou perder o mandato, assim como não perdi o meu mandato de vereador, quando saí do PSDB [em 2009]. Quase ninguém foi cassado por migrar.

Valor: O senhor é próximo a Alckmin, mas está indo para o partido de Temer. De que lado vai ficar?

Chalita : Sou muito próximo a Dilma, a Temer também. Sou uma pessoa de pontes, não de muros. Tenho boas relações. Tenho admiração profunda pelo Temer. Fiz Direito por causa dele, eu o conheci quando tinha 18 anos. Na época o [André Franco] Montoro estava no PMDB também. Tenho uma relação ótima com o PT. Esse maniqueísmo não precisa existir. Vou continuar tendo boa relação com Alckmin, como tenho com [senador] Aécio [Neves, do PSDB].