Título: Dengue, a fronteira entre caos e controle
Autor: Khod, Carolina
Fonte: Correio Braziliense, 14/08/2010, Brasil, p. 12

SAÚDE

Governo prepara força-tarefa com a participação de três ministérios para combater a doença na região que faz limite com países da América do Sul, depois de confirmados os casos do tipo 4 em Boa Vista. Só este ano 182 pessoas morreram no Brasil

Depois de confirmados ao menos três casos de dengue tipo 4 em Boa Vista, capital de Roraima, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, está estruturando uma ação conjunta, que inclui também os ministérios da Defesa e das Relações Exteriores, para controlar a multiplicação da doença pelo país. Uma das ideias, entre outras futuras determinações, é utilizar o Exército para combater a dengue na região da fronteira entre Brasil e Venezuela. Desde o fim de junho, as secretarias estadual (Roraima) e municipal (Boa Vista) reforçaram uma séries de ações, como aplicação de inseticidas e larvicidas nas áreas próximas de onde foram registrados os casos, para tentar conter a dispersão de mosquitos infectados. Os agentes comunitários foram mobilizados e realizam mutirões de limpeza e mobilização da comunidade.

Há 28 anos, a dengue tipo 4 não circulava pelo país. De acordo com o Ministério da Saúde, os outros três sorotipos virais (1, 2 e 3) estão presentes de forma heterogênea por todos os estados. O infectologista Bruno Vaz esclarece que os sintomas e tratamento para as quatro variações de dengue são os mesmos. Mas alerta: A presença do vírus tipo 4 aumenta a probabilidade de uma pessoa se infectar novamente, podendo contrair a forma mais grave da doença, a hemorrágica.

A dengue hemorrágica, que ocorre apenas em casos bem específicos, é mais agressiva e pode levar à morte. No primeiro semestre deste ano, 788.809 casos de dengue foram registrados no país. Em Minas Gerais, segundo estado com maior número de ocorrências atrás apenas de São Paulo 26 pessoas perderam a vida por causa da dengue hemorrágica. Ao todo, 182 pessoas morreram de dengue este ano.

A proximidade do verão agrava mais a situação, já que é uma época de chuvas, o que facilita a proliferação dos mosquitos. De acordo com o ministro José Gomes Temporão, o país está preparado para enfrentar a circulação do vírus tipo 4 no próximo verão. O Ministério da Saúde vem investindo mais de R$ 1 bilhão no combate à dengue.

O presidente da Confederação Nacional de Municípios, Paulo Ziulkoski, acredita que as atividades de prevenção da dengue devem ser intensificadas independente da situação epidemiológica atual. Para Ziulkoski, atividades como o envolvimento e esclarecimento da população sobre prevenção podem reduzir a ocorrência de casos graves e de óbitos no país.

A presença do vírus tipo 4 aumenta a probabilidade de uma pessoa se infectar novamente, podendo contrair a forma mais grave da doença, a hemorrágica

Bruno Vaz, infectologista

Memória

Mais vivo do que nunca

Há 29 anos, os sorotipos DEN-1 e DEN-4 foram isolados no país, em Roraima. Depois de cinco anos sem registros de dengue, houve a recirculação do DEN-1 em seis estados (Minas Gerais, Rio de Janeiro, Alagoas, Ceará, Pernambuco e Bahia). Em 1990, o DEN-2 entrou no país e, dois anos mais tarde, foram registrados os primeiros casos de DEN-3. A partir daí os três sorotipos passaram a circular de forma dispersa e heterogênea em todo o país.

O DEN-4 está presente em dez países das Américas, incluindo a Venezuela, que faz fronteira com o estado de Roraima. De acordo com estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS), a dengue é uma das doenças mais endêmicas do mundo, afetando mais de 100 milhões de pessoas por ano no planeta. O Brasil foi o recordista da América Latina, quando em 2008 registrou 400 mil casos. Mas só em 2010 mais de 700 mil já foram notificados. (CK)