Título: Surto de E. coli gera crise entre países da Europa
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 03/06/2011, Internacional, p. A13

Agências internacionais

Além de 18 mortes, o surto da bactéria Escherichia coli (E. coli) originado na Alemanha está causando perdas econômicas, gerou uma crise entre a Rússia e a União Europeia e levou a França a lançar um apelo para que não sejam realizados cortes no orçamento agrícola do bloco.

O ministro francês da Agricultura, Bruno Le Maire, disse ontem que a Europa não pode cortar os seus gastos agrícolas se pretende evitar futuras crises alimentares. "Eu também gostaria de poder cortar o orçamento, mas teremos que explicar aos consumidores que também precisaremos cortar os controles sanitários, que são parcialmente pagos pela política agrícola comum", disse Le Maire. No final deste mês, a Comissão Europeia deverá apresentar as linhas gerais orçamentárias para os próximos sete anos.

A Rússia ampliou ontem o veto à importação de vegetais de Espanha e Alemanha para incluir todos os países da Europa. "As coisas que vêm acontecendo na União Europeia há um mês não acontecem nem em países africanos", disse Gennady Onishchenko, diretor da Rospotrebnadzor, agência estatal russa para os direitos do consumidor. "Defino a ação das agências de saúde da UE e outros órgãos europeus responsáveis por esta desgraça como não profissional e irresponsável."

A União Europeia reagiu duramente, definindo como "desproporcional" a medida russa. Nada menos de 45% das importações russas de frutas e legumes vêm da Europa, num negócio de US$ 5,5 bilhões por ano. De acordo com a Freshfel, uma organização de produtores agrícolas europeus, a produção de frutas e vegetais na UE movimenta US$ 70 bilhões anuais, com um valor de US$ 170 bilhões para toda a cadeia de suprimentos. Com vendas de US$ 7,7 bilhões em 2010, a Holanda é o maior exportador mundial de vegetais.

A Polônia, um dos maiores exportadores de frutas e vegetais para a Rússia, disse que a decisão de Moscou era "excessiva", mas também fez reparos ao órgão executivo da UE. "A Comissão Europeia não pode fingir que não aconteceu nada. A situação já está afetando os fazendeiros", disse Marek Sawicki, ministro da Agricultura.

O primeiro-ministro espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, também atacou a Comissão Europeia e a Alemanha. "Eu teria preferido uma reação mais clara da Comissão", disse em entrevista a uma rádio. "O governo federal alemão deveria saber que tem uma responsabilidade geral para com outros Estados na União Europeia e nós iremos requisitar explicações muito diretas e exigir reparações adequadas." Agricultores espanhóis dizem que a infundada acusação alemã de que o surto teve origem em pepinos da Espanha está causando prejuízos de ¿ 200 milhões por semana e pode causar a perda de emprego a 70.000 pessoas. Ontem, em Valência, agricultores fizeram um protesto, despejando 300 quilos de vegetais na frente do consulado alemão. Desde o início da crise, o preço do pepino despencou do patamar de 20 centavos de euro para entre 5 e 7 centavos.

Até o momento, ainda não foi descoberto o produto que está causando a doença. Alguns cientistas suspeitam que a versão letal da E. coli tenha se originado em esterco contaminado usado para fertilizar vegetais. "Devemos pensar numa origem animal", afirmou Hilde Kruse, especialista em segurança alimentar da Organização Mundial da Saúde. "Muitos animais são hospedeiros de vários tipos de E. coli produtores de toxinas."

Segundo Kruse, o surto está sendo provocado por "uma cepa única que jamais foi isolada a partir de pacientes antes". Essa cepa nova tem "várias características que a tornam mais virulenta". Essas toxinas destroem as células sanguíneas e também atacam os rins.

Desde o começo do surto, já foram constatados casos em 11 países (Alemanha, Áustria, Dinamarca, França, Holanda, Noruega, Espanha, Suécia, Suíça, Reino Unido e Estados Unidos), com cerca de 1.600 pessoas afetadas. (Com Financial Times)