Título: A recuperação, se vier, virá dos grandes papéis
Autor: Camba, Daniele
Fonte: Valor Econômico, 03/06/2011, Investimento, p. D2

O mercado brasileiro, como um todo, não está para peixe. No entanto, os grandes papéis sofrem mais. As ações preferenciais (PN, sem direito a voto) da Gerdau, por exemplo, caem no ano 25,11%. Já as ordinárias (ON, com voto) da OGX têm queda de 22,10%. As PNs e ONs da Petrobras se desvalorizam, no ano, 10,58% e 11,55%, respectivamente, enquanto as PNs do Itaú Unibanco caem 8,53% e as do Bradesco, 5,44%.

Todas essas ações têm participações relevantes no Índice Bovespa. Portanto, o que quer que aconteça com elas dita o rumo do principal indicador do mercado brasileiro. Alguns desses papéis estão com os menores indicadores (múltiplos) desde a crise financeira internacional de 2008, o que pode ser sinal de que o atual movimento de queda está um tanto quanto exagerado.

Algumas vedetes estão no pior momento desde 2008

Esse é exatamente o caso dos bancos. O preço sobre lucro (P/L, que dá uma ideia de quantos anos deve demorar para o investidor ter de volta o quanto aplicou no papel) do Itaú, por exemplo, para os próximos 12 meses, está em 9 vezes, lembra o diretor de tesouraria de um banco. No entanto, no pior momento da crise de 2008, esse indicador esteve entre 11 e 12 vezes.

"O investidor exagerou na venda das ações; por pior que seja o cenário da bolsa, a maior parte dessas grandes companhias possui bons fundamentos, portanto, não deveria sofrer dessa forma", diz o diretor do banco.

A exceção nessa história é a Petrobras. A ingerência do governo sobre a gestão da estatal torna o destino da companhia altamente incerto. Um bom exemplo é a resistência do governo em não aumentar o preço da gasolina, com o objetivo de manter a inflação sob controle.

Mesmo os fatos negativos que existem nessas grandes companhias já parecem estar integralmente embutidos nos preços dessas ações. Nas siderúrgicas ocorreu uma mudança estrutural no preço do aço. No caso dos bancos, foram os efeitos das medidas macroprudenciais adotadas pelo governo para conter a inflação. Já na Vale, é o temor de uma desaceleração mais brusca da economia da China - o maior consumidor de minério do mundo - e as incertezas em torno da mudança do presidente da empresa. Ontem, o Ibovespa fechou em alta de 1,27%, aos 64.218 pontos.

Ontem, a coluna errou o nome do gestor de renda variável da Franklin Templeton, Frederico Sampaio.

Daniele Camba é repórter de Investimentos