Título: Setor público é incógnita no período
Autor: Lamucci, Sergio ; Villaverde, João
Fonte: Valor Econômico, 23/05/2011, Brasil, p. A4

De São Paulo

A taxa de investimento poderia ser muito maior no primeiro trimestre não fosse o setor público. Esta é a avaliação de Fabio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores, para quem os gastos menores com investimentos, por parte do Estado, nos primeiros três meses do ano, acabaram não só por influenciar um avanço pouco expressivo nos investimentos como um todo, mas também galvanizaram os investimentos do setor privado. Para Silveira, que estima o avanço dos investimentos em 0,8%, entre o quarto trimestre do ano passado e o primeiro deste ano, feito o ajuste sazonal, "a troca de governo reduziu o ímpeto dos gastos públicos, que também foram represados por uma política de aperto fiscal". Isso terminou por "induzir o setor privado, que tirou um pouco o pé neste começo de ano".

De acordo com Silveira, o consumo das famílias registrou avanço próximo a 2% na passagem entre o quarto trimestre de 2010 e os primeiros três meses deste ano, feito o ajuste sazonal, o que serviu para impulsionar o Produto Interno Bruto (PIB), que teve alta, estimada pela RC, de 1% no período. Trata-se, portanto, de um quadro semelhante ao registrado entre o terceiro e o quarto trimestres do ano passado, quando, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os investimentos registraram alta de 0,7%, o consumo das famílias aumentou 2,5%, e o PIB teve uma elevação de 0,7%.

"O último trimestre do ano passado foi marcado pelas eleições, quando o governo tem dificuldades legais para gastar, e o setor privado ficou atento para o projeto que sairia vencedor, atrasando investimentos", diz Silveira. "O novo governo entrou e, desde o início, tem praticado um ajuste fiscal mais firme, e o próprio setor privado acabou sendo mais cauteloso", afirma o economista. Para ele, o setor privado, no entanto, "acelerou" a partir do segundo trimestre.

O economista-chefe do HSBC, André Loes, ainda que com um cenário mais otimista, também avalia que o setor público pode "surgir como surpresa negativa" na composição oficial dos investimentos no PIB do primeiro trimestre, que será divulgado na semana que vem. Loes estima em 15,7% a alta nos investimentos na comparação anual, isto é, entre o primeiro trimestre deste ano e igual período do ano passado - quando os investimentos eram vistosos. No entanto, diz ele, "o resultado pode vir um pouco menor, em torno de 13%, justamente porque o setor público atrasou muito os investimentos nos primeiros meses". "É a única forma de um ajuste fiscal sair no Brasil, por meio dos investimentos, uma vez que outros gastos são muito engessados", afirma Loes. (JV)