Título: Em abril e maio, sinais de consumo mais fraco
Autor: Lamucci, Sergio ; Villaverde, João
Fonte: Valor Econômico, 23/05/2011, Brasil, p. A4

De São Paulo Os últimos indicadores divulgados que analisam crédito e vendas mostram um crescimento menos acelerado do consumo, motivado pelas medidas macroprudenciais tomadas pelo Banco Central para conter a expansão da demanda, e que terão efeito mais visível sobre o comércio a partir do segundo semestre de 2011, dizem analistas consultados pelo Valor.

Aos 129,9 pontos, o índice de Intenção do Consumo das Famílias (ICF) de maio, divulgado pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), é o mais baixo já registrado pela pesquisa, que começou a ser feita em janeiro de 2010. O indicador recuou 2% em relação a abril e 2,3% na comparação com maio do ano passado, na primeira queda anual constatada pelo estudo.

"Se tem uma palavra que resume o último ICF, essa palavra é crédito", explica o economista Fábio Bentes, responsável pelo índice. "O custo do crédito vem crescendo mês a mês e isso fez com que as famílias colocassem o pé no freio já em março. Vou ficar surpreso se os dados da PMC [Pesquisa Mensal do Comércio, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística] de maio vierem fortes", diz.

Os resultados da primeira quinzena de maio do comércio paulistano confirmam a desaceleração no consumo. Apesar do Dia das Mães, foram feitas 909,8 mil consultas ao Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC), número 5,3% inferior ao registrado no mesmo período de abril, quando 960,6 mil consultas foram realizadas.

As informações referentes ao uso de cheques, no entanto, mostram uma tendência contrária: houve crescimento de 9,7% no uso desse tipo de pagamento em igual comparação.

Para o economista Marcel Solimeo, da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), o Dia das Mães, assim como a mudança do clima, são responsáveis por esse aumento. "Há um pouco de migração do consumidor para tentar driblar os canais comuns de crédito, mas isso é em grande parte efeito do Dia das Mães e da esfriada que deu no clima, que acelera a venda de roupas e calçados, na qual o cheque tem maior participação", diz.

Solimeo ressalta, contudo, que também deve haver redução no uso de cheques daqui para frente. "O impacto das medidas [macroprudenciais] é sobre a economia como um todo."

Para Luiz Rabi, gerente de indicadores da Serasa Experian, a atividade do comércio deve mostrar sinal de acomodação ou de crescimento mais brando já a partir deste mês. "O crédito costuma ser uma variável antecedente da atividade econômica, e o varejo é um dos primeiros elos de transmissão desse mecanismo. É uma questão de tempo para que o varejo comece a sentir na pele a questão do aperto monetário", avalia.

Rabi acredita que essa defasagem explica porque o Indicador Serasa Experian de Atividade do Comércio captou um movimento 1,8% maior de consumidores nas lojas entre os meses de março e abril, enquanto o Indicador de Demanda do Consumidor por Crédito, que é calculado pela mesma empresa, caiu 3% em igual período. O economista também destaca que os dados de abril foram influenciados pela Páscoa, já que o que puxou o avanço das vendas no mês foram os supermercados.

Os últimos dados publicados pelo IBGE indicam avanço de 1,7% nas vendas do varejo ampliado (que inclui veículos e autopeças e material de construção) entre fevereiro e março. No trimestre, contudo, as vendas aumentaram 7,1% sobre mesmo período de 2010, praticamente metade da taxa de crescimento verificada entre o último trimestre do ano passado e igual intervalo de 2009, que foi de 14,3%.