Título: Popularização está entre os maiores desafios
Autor: Guimarães, Luiz Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 23/05/2011, Especial Fundos de Investimentos, p. F1
De São Paulo
Apesar do crescimento da economia brasileira e da expansão da indústria, os fundos ainda são um privilégio concentrado na classe A. O número de cotistas saltou de 2,4 milhões em 2005 para 4,3 milhões no ano passado, mas não há uma pulverização pelas demais classes sociais. Um dos desafios do setor é promover uma popularização mais intensa do instrumento. E, antes disso, convencer as pessoas de que é necessário organizar o orçamento e poupar. Pesquisa realizada pelo Ibope Inteligência, sob encomenda da Anbima, ouviu mil pessoas das classes A, B e C e um pouco mais da metade da amostra declarou não fazer nenhum tipo de aplicação, por "não sobrar dinheiro no fim do mês".
A pesquisa constatou que, por faixa de renda, cresceu o interesse por fundos na classe mais alta, enquanto diminuiu nas mais baixas. Nos últimos cinco anos, a porção das pessoas com renda familiar acima de R$ 19.200 que investe em fundos dobrou, passando de 10% para 21%. Para o segmento da classe A com renda entre R$ 9.600 e R$ 19.200, o avanço foi ainda mais expressivo, de 22% para 34%. Em compensação, na classe B (renda entre R$ 4.800 e R$ 9.600), a fatia dos que investem em fundos diminuiu de 30% para 22%. Mesmo movimento ocorreu entre as pessoas com renda abaixo de R$ 4.800. Em 2005, 24% delas aplicavam em fundos, enquanto hoje são 12%.
Será necessária alguma mudança na legislação para popularizar ainda mais os fundos? No entender do vice-presidente da Anbima, Demosthenes M. Pinho Neto, a indústria de fundos brasileira é uma das mais bem reguladas do mundo e as iniciativas da Anbima contribuem para que os fundos sejam vistos como boas opções de investimentos. O aperfeiçoamento da classificação de tipo e categoria visa a facilitar o entendimento do investidor.
"A popularização dos fundos de investimento também passa por outro pilar importante, que é a educação do investidor. Esse é um processo que vem ocorrendo de forma gradual, por iniciativa de várias entidades, de forma a fornecer subsídios para que os investidores tomem decisões maduras e conscientes de investimento", diz o dirigente.
O treinamento dos gerentes da rede bancária é fundamental para a difusão de conhecimentos sobre os fundos. A pesquisa mostrou que tem crescido a fatia de investidores da classe A que buscam se informar por meio de sites, não só do internet banking, mas também dos especializados em finanças pessoais. Mas o gerente ainda é o consultor primordial. "O investidor ainda prefere o olho no olho com seu gerente. Pelo menos para a primeira aplicação", diz o superintendente-executivo da corretora Santander, Eduardo Jurcevic.
Embora acredite que a indústria desfrute hoje o status de aplicação confiável e dotada de regras claras, o diretor de renda fixa da Concórdia Corretora da Valores, Ricardo Martins, diz que ela ainda precisa desenvolver mais campanhas educativas destinadas a aumentar o grau de compreensão de potenciais investidores. O investidor precisa perceber que, com rendimentos elevados e condições ótimas de liquidez, os fundos são fortes concorrentes da poupança.
Na pesquisa do Ibope, aumentou a insatisfação dos quem investem em fundos com as taxas de administração. Em 2005, elas eram vistas por 11% como a principal desvantagem dos fundos. Este percentual subiu para 18% agora. Para Márcio Simas, diretor da Icatu Vanguarda, as taxas irão cair quanto mais investidores a indústria conseguir cativar. "Os produtos precisam ser mais acessíveis, transparentes e baratos", afirma. (L.S.G.)