Título: Oposição colhe assinaturas para CPI
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 24/05/2011, Política, p. A6

De Brasília

Os líderes dos partidos de oposição na Câmara dos Deputados e no Senado reúnem-se hoje para definir estratégia de mobilização na tentativa de instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar suspeitas de irregularidades na evolução do patrimônio do ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci. As assinaturas começaram a ser colhidas ontem, mas será preciso conseguir adesão de parlamentares da base governista. São necessárias 171 assinaturas na Câmara e 27 no Senado para a investigação.

"Vamos tentar sensibilizar os dissidentes. Só com a oposição, não conseguiremos", admite o líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR), preocupado em manter o assunto na mídia.

O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), dissidente do seu partido, afirmou ontem que a presença de Palocci no ministério deixa o governo "exposto, acuado e obrigado a adotar medidas que só pioram a situação". Para o senador, o afastamento do ministro evitaria constrangimentos à presidente Dilma Rousseff, porque até agora não apresentou explicações convincentes para o aumento do patrimônio em 20 vezes, durante seu mandato como deputado.

"Amealhar R$ 7 milhões em quatro anos não é tarefa fácil, ainda mais quando essa façanha foi executada paralelamente ao trabalho de deputado federal. E não estou falando de um simples parlamentar, mas de um dos mais importantes quadros do PT no Congresso Nacional, envolvido diretamente com os projetos e propostas mais estratégicos para o governo Lula", disse Jarbas, em discurso.

Para o senador, o comportamento de Palocci é "incompatível" com o cargo. "Ele precisa escolher se deve fidelidade aos eleitores ou às empresas que o levaram a multiplicar o patrimônio por vinte. Não se pode servir a dois senhores."

Jarbas disse que considerar o caso encerrado é "uma evidente tentativa de jogar as suspeitas para debaixo do tapete". Citou a divulgação pela "Folha de S.Paulo", no sábado, de que o faturamento da Projeto, consultoria do ministro, superou R$ 10 milhões em novembro e dezembro do ano passado.

Para ele, o ministro perdeu as condições de ocupar o cargo. "Ele deve sair, até porque é quem desde o dia 1º de janeiro exerce a tarefa de indicar, de vetar ocupantes para cargos públicos", disse. Jarbas lembrou o envolvimento de Palocci com a quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Pereira, que levou à sua demissão como ministro da Fazenda do governo Lula. "E, ainda assim, foi premiado com uma segunda chance, mas incorreu novamente no erro."

Em aparte, a senadora Ana Amélia Lemos (PP-RS), cujo partido integra a base aliada do governo Dilma, concordou com a necessidade de afastamento de Palocci. Na sua opinião, Dilma deveria seguir o exemplo do ex-presidente Itamar Franco, que afastou o então ministro da Casa Civil Henrique Hargreaves, quando sofreu acusações de irregularidades. "Depois do esclarecimento, Hargreaves voltou muito mais fortalecido. Agora, da mesma forma, se poderia esperar que a presidente Dilma preste a esta Casa os esclarecimentos deste caso para não pairar nenhuma dúvida", afirmou.