Título: Colômbia mantém política de guerra
Autor: Vaz, Viviane
Fonte: Correio Braziliense, 14/08/2010, Mundo, p. 27

América do Sul

Presidente oferece recompensa por autores de atentado e descarta diálogo com terroristas

Sem saber se o atentado de quinta-feira em Bogotá foi obra da guerrilha esquerdista, da extrema direita ou de cartéis do tráfico, o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, prometeu ontem que seu governo não repensará sua política que, nos primeiros dias foi acenou para o diálogo e a diplomacia. Ele frisou, porém, que a oferta não é incondicional e qualquer negociação terá como premissa gestos de paz. Que libertem os sequestrados, deixem o terrorismo, libertem as crianças que recrutaram à força, deixem a extorsão, deixem de atuar como terroristas. Até que não vejamos isso, a chave (do diálogo) ficará muito bem guardadinha, afirmou o presidente durante cerimônia militar no departamento do Cauca, no sudoeste do país, o mais afetado nos últimos meses pela guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

Santos confirmou que a ordem é endurecer, endurecer e endurecer contra o terrorismo: Isso é o que faremos, que é o que tanto deseja o Cauca: que esses terroristas deixem de molestar, de atacar a população. O ministro da Defesa, Rodrigo Rivera, aproveitou para lembrar que, já no início da semana, o presidente havia desautorizado qualquer iniciativa paralela de diálogo com grupos armados ilegais. A resposta é não, obrigado. Nem no exterior(1), nem na Colômbia, afirmou. O governo nacional, quando for oportuno, quando considerar que as circunstâncias foram dadas e elas não estão dadas , vai tirar a chave do bolso e abrir a porta, completou.

Rivera revelou que o governo está desenhando uma nova estratégia para recuperar a segurança no Cauca, que tem se mostrado o calcanhar de Aquiles da política de segurança implantada pelo governo anterior, de Álvaro Uribe. Demos aos altos comandos (militares) mais uma tarefa imediata de repensar uma estratégia. Eles vão nos passar propostas dentro da lógica de endurecer, endurecer e endurecer, para poder entregar vitórias ao país, disse o ministro.

O presidente anunciou uma recompensa de 500 milhões de pesos (pouco mais de US$ 270 mil) por informações que permitam chegar aos responsáveis pelo atentado de Bogotá. Não sabemos ainda, temos que dizer a verdade, quem foram os responsáveis, admitiu. Até o início da noite de ontem, o único elemento concreto para os investigadores era a confissão de um cidadão que se apresentou à polícia, se identificou como Gustavo Ladino e admitiu ter recebido 400 mil pesos para falsificar as placas do Chevrolet Swift usado para cometer o atentado, em frente ao prédio da rádio Caracol. Ladino, nega ter sido responsável pela explosão, mas foi imediatamente submetido a interrogatório.

Sindicalista morto O sindicalista Luis Germán Restrepo, 58 anos, foi assassinado a tiros em Medelin, norte do país. A polícia suspeita que o crime teve motivação política, já que ele defendeu a assinatura do Tratado de Livre Comércio (TLC) com os Estados Unidos, combatido pelas Farc. O ex-presidente Álvaro Uribe se manifestou mais uma vez pelo microblog twitter: Mataram o operário da fraternidade e um exemplo de líder. Com ele, abrimos a porta para o sindicalismo de participação.

1 - Gestões em Havana O ex-presidente cubano Fidel Castro conversou na quinta-feira sobre o conflito armado com a senadora colombiana Piedad Córdoba, que tenta mediar algum tipo de diálogo com as Farc. A televisão cubana mostrou o encontro, em Havana, e divulgou uma mensagem dos dois dirigentes políticos. Ambos coincidiram em expressar seu otimismo quanto ao triunfo da paz e a construção de um mundo novo, diz o texto. A senadora, que fez oposição cerrada à política de guerra total do ex-presidente Álvaro Uribe, acertou com o veterano líder da revolução comunista a promoção de uma nova reunião, amanhã, com vários dos principais dirigentes que lutam pela paz na Colômbia.