Título: Oposição aposta em CPI no Senado para investigar Palocci
Autor: Ulhôa, Raquel ; Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 25/05/2011, Política, p. A8

De Brasília

Apesar das sucessivas derrotas, por serem minoritários na Câmara e no Senado, os partidos de oposição decidiram ontem manter as tentativas de convocar o ministro Antonio Palocci (Casa Civil) para prestar esclarecimentos ao Congresso sobre indícios de enriquecimento ilícito e tráfico de influência. As suspeitas baseiam-se na evolução patrimonial e na existência, em contratos firmados pela empresa de consultoria do ministro, de "cláusulas de sucesso" caso o negócio desse certo.Os líderes do PSDB, do DEM, do PPS, do PSOL da Câmara e do Senado e alguns dissidentes de partidos governistas reuniram-se ontem para traçar estratégias de ação no episódio. Prevendo dificuldade na coleta de assinaturas na Câmara necessárias à criação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), os líderes admitem que a comissão poderá ser transformada em exclusiva do Senado, onde consideram mais fácil conseguir apoio. São necessárias 171 assinaturas da Câmara e 27 no Senado. A oposição quer conquistar adesão de governistas.

"Vamos buscar outras assinaturas de pessoas que têm capacidade de indignação. A postura de omissão da presidente Dilma consagra a impunidade. É preciso que a presidente se manifeste e que o ministro Palocci se afaste do cargo até que as denúncias sejam investigadas. Aqueles que blindam o ministro Palocci estão prevaricando", disse o líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR). "As provas são muito graves contra ele e o ministro não vem a público se defender. Só nos resta tentar convocá-lo", afirmou o líder do DEM, Demóstenes Torres (GO).

Na Câmara e no Senado, continuarão a ser apresentados requerimentos propondo a convocação de Palocci. Hoje, haverá nova tentativa na Comissão de Orçamento. A apresentação do requerimento levou ao adiamento da reunião de ontem. A oposição também decidiu entrar com mais duas representações no Ministério Público, pedindo investigação. Uma delas pede que seja investigada a apresentação de uma emenda ao Orçamento da União por Palocci em 2008, quando era deputado federal, destinando R$ 250 mil à Fundação Feira do Livro de Ribeirão Preto, que tinha como vice-presidente uma cunhada do hoje ministro. Para a oposição, há indícios de crime de prevaricação.

Também foi acrescentado à representação já proposta no dia 17 - pedindo apuração do aumento do patrimônio do ministro - um relatório que o Conselho de Atividades Financeiras (Coaf) enviou à Polícia Federal, comunicando que a empresa de Palocci, a Projeto Consultoria Financeira Econômica, realizou operação financeira suspeita na aquisição de um imóvel.

Pela manhã, em reunião da Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA) do Senado, os governistas se mobilizaram para derrotar requerimento da senadora Marinor Brito (PSOL-PA) convocando Palocci a prestar esclarecimentos sobre o aumento do seu patrimônio. Diante da desvantagem numérica, Marinor retirou o requerimento de pauta. "Não estamos fazendo acusação. Queremos deixar de nos pautar pelas informações da imprensa, e saber e informar a opinião pública por meio do próprio ministro", disse ela.

O líder do PT, Humberto Costa (PE), defendeu que o Congresso aguarde as explicações que Palocci dará à Procuradoria Geral da República. Segundo ele, as ações da oposição - tentativa de convocação, de criação de CPI e de investigação - têm como objetivo político e não de esclarecer os fatos.