Título: Investida de Aécio e Guerra contra Serra divide tucanos paulistas
Autor: Grabois, Ana Paula ; Lima, Vandson
Fonte: Valor Econômico, 25/05/2011, Política, p. A10

De São Paulo e de Brasília

A investida do senador Aécio Neves (PSDB-MG) e do presidente do PSDB, o deputado federal Sérgio Guerra (PE) para desalojar aliados do ex-governador José Serra da executiva do partido divide os tucanos paulistas. Vitorioso na indicação do comando dos diretórios municipal e estadual de São Paulo, que marginalizou os serristas, Alckmin defende espaço na executiva nacional tucana para São Paulo, mas não tem comprado briga pelo correligionário. "São Paulo não está fora da direção nacional. O Alckmin está na dele e o Sérgio Guerra está muito bem com o governador", disse um interlocutor de Alckmin.A cautela de Alckmin, candidato a líder inconteste do PSDB paulista, deve-se ao seu interesse em evitar que os serristas sejam atraídos para a seara do prefeito Gilberto Kassab e de seu novo partido. Na reunião com o presidente do PSDB, na segunda-feira, Alckmin trabalhou para garantir um representante na primeira vice-presidência da direção executiva, cargo diverso ao que Serra tem interesse em ocupar, a presidência do Instituto Teotonio Vilela (ITV), dono de um caixa de cerca de R$ 11 milhões - valor próximo à divida de R$ 11,9 milhões do partido em 2010.

Depois das eleições do ano passado, Serra almejava a presidência da sigla. Foi atropelado em janeiro por um abaixo-assinado de 54 parlamentares da bancada federal pedindo a permanência de Guerra na direção nacional do partido. Na época, foi oferecido a Serra a presidência do ITV. O tucano negou o convite, estendido ao ex-senador Tasso Jereissati.

Agora, Serra tenta negociar a presidência do instituto. "É preciso respeitar a biografia de Serra e lhe dar um cargo a altura. Tirando a presidência do partido, tem que ser a do ITV", diz o deputado federal Antonio Imbassahy (BA).

O grupo de sustentação de Alckmin aceitou a indicação para a recondução do aecista Rodrigo de Castro para o cargo. Na avaliação desse grupo, o grau de articulação do deputado com a bancada federal é elevado, o que resultaria em derrota a um eventual concorrente na disputa pelo cargo.

Parlamentares ligados a Serra alardeavam ontem a sinalização de um acordo por parte de Guerra de aceitar que Serra ocupe a presidência do ITV. Uma comissão do partido teria agendado uma ida amanhã a Fortaleza para convencer Jereissati a desistir do instituto.

Os serristas queriam ainda a secretaria-geral do PSDB nas mãos do ex-governador Alberto Goldman. "São Paulo não aceita espaço inferior à secretaria-geral e à presidência do ITV", diz o deputado estadual Orlando Morando, líder do PSDB na Assembleia Legislativa de São Paulo e um dos porta-vozes de Serra nas negociações internas da legenda. Goldman foi submetido ontem a uma cirurgia de duas pontes de safena e não deve participar da convenção do PSDB, no sábado.

Deputados aecistas afirmaram que não havia nenhuma sinalização de acordo e mantinham o entendimento prévio de que o lugar de Serra seria no conselho político da sigla, ao lado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do senador Aécio, dos governadores Alckmin e Marconi Perillo (GO), além de Guerra e Tasso. Na avaliação deles, Serra no ITV seria o equivalente ao partido ter "duas cabeças" e "dois entendimentos diferentes". Além disso, haveria dificuldade em convencer a bancada do Senado a retirar apoio a Tasso.

A inviabilidade disso, declararam, se daria porque o instituto é um órgão que presta assessoria à executiva e poderia haver divergência na condução do partido caso Serra tomasse posicionamentos contrários a Guerra. O receio é de que Serra no ITV vire "uma sombra" para o deputado. Convencer Tasso a recuar também seria outra dificuldade, principalmente pelas fortes divergências que teve com Serra na sua trajetória política.

Os serristas, porém, se diziam satisfeitos ontem com a sinalização do acordo. Disseram que já estava tudo pronto para uma ida de Guerra amanhã ao Ceará e que a vice-presidência também ficaria com Goldman. Avaliavam que Aécio não pode prescindir de São Paulo no seu projeto presidencial e que, portanto, tem de satisfazer o interesse das principais lideranças do Estado.

Entre os deputados federais ligados a Serra, já está sendo colocada a hipótese de debandada rumo ao PSD, legenda em processo de fundação criada pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. O movimento seria semelhante ao que ocorreu depois da troca de direção do PSDB da capital paulista, em abril. Com a chegada do secretário de Gestão do governo Alckmin, Julio Semeghini, à presidência do diretório municipal, seis vereadores deixaram a legenda rumo a outros partidos, como PSD, PV e PMDB.