Título: Dilma elogia Palocci, pede trégua aos aliados e lista prioridades de Gleisi
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 09/06/2011, Política, p. A6

A presidente Dilma Rousseff empossou ontem a nova chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, citando as linhas de ação que devem nortear as tarefas dos ministros em seu governo: combate à inflação, garantia da rigidez fiscal, geração de empregos, investimentos em educação, distribuição de renda e combate à desigualdade e à miséria absoluta. Também deu um recado aos opositores e a alguns integrantes da base aliada que pressionaram, com o "fogo amigo", a queda do ex-ministro Antonio Palocci: "O interesse nacional deve sempre se sobrepor à luta política conjuntural", disse a presidente.Em uma solenidade extremamente concorrida, com a presença de senadores, deputados, ministros, governadores - inclusive de oposição, como Beto Richa, governador do Paraná, o Estado da senadora e agora ministra - e empresários como Jorge Gerdau, Murilo Portugal [presidente da Febraban] e Luiz Trabuco [presidente do Bradesco ], Dilma emocionou-se ao despedir-se de Antonio Palocci, o amigo que dirigiu sua campanha eleitoral e a acompanhou à Presidência como o ministro mais importante do governo.

"Tenho muitas razões para lamentar a saída do ministro Palocci. Razões políticas, administrativas e pessoais", declarou a presidente.

Do ponto de vista político, Dilma lembrou a atuação de Palocci durante a campanha presidencial de 2010 e a montagem do governo na equipe de transição. Do ponto de vista administrativo, "pelo papel que teve e teria no meu governo". E no lado pessoal, "pela amizade construída ao longo do tempo". Não chorou, mas embargou a voz ao dizer que Palocci ajudaria "ao governo e a ela".

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que não esteve em Brasília, defendeu a demissão de Palocci. "É sempre triste tirar um companheiro. Eu tive que tirar companheiros e é um sofrimento muito grande. Sei que a presidente tem autoridade e fez no momento certo", afirmou o petista antes de uma palestra para empresários da Tetra Pak.

A presidente disse que, apesar da tristeza, estava satisfeita com a saída que encontrou para a continuidade da Casa Civil: "Um amigo deixa o governo e outra amiga assume em seu lugar". De acordo com Dilma, Gleisi tem uma "sólida formação em gestão pública mas também tem igualmente capacidade política".

Palocci, que assegurou deixar o governo de "cabeça erguida e sem mágoas", afirmou que não pretendia transformar o evento de ontem em um momento triste.

Palocci disse que buscou, ao longo do tempo em que esteve no cargo, "construir um ambiente político equilibrado, justo e racional". E afirmou: "Se vim para ajudar a promover o diálogo, saio agora para preservá-lo". Lembrou o parecer do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que arquivou as denúncias contra ele. "O parecer da Procuradoria confirmou o que eu tenho dito repetidamente nos últimos dias: trabalhei na mais estrita legalidade". Mas acrescentou que "o tempo jurídico não trabalha no mesmo diapasão do mundo político". Foi aplaudido de pé pelo auditório.

A nova titular da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, direcionou seu discurso muito ao Congresso, onde chegou neste ano como senadora pelo Paraná, com mais de 3 milhões de votos, e ao seu Estado.

Considera que a escolha de seu nome para o cargo mostra a atenção e o respeito que a presidente Dilma tem com o Parlamento: "Minha escolha não se deve apenas à minha caminhada política, mas ao meu trabalho de gestão pública. Ao escolher uma senadora, a presidente manifesta apreço ao Legislativo. Sou parte da força política do Parlamento."

Ela também sinalizou uma aproximação com o PMDB, partido que ajudou na sustentação política do ex-ministro Antonio Palocci e que demonstrou surpresa com a escolha da nova ministra. E afirmou que essa boa relação vai se estender a todos os partidos da base aliada. "Estarei sempre à disposição para discutir com todos, de acordo com a disponibilidade da presidenta Dilma e do vice [Michel] Temer", disse ela.

Gleisi afirmou que trabalharia com a mesma lealdade e seriedade com que Palocci serviu à presidente. "A capacidade de trabalho de Palocci é inquestionável". Mas ressaltou que é a presidente o grande exemplo "para mim e para todas as mulheres do país". Fez um discurso de conciliação com o Congresso, mostrando que pretende retomar o trabalho de articulação política do governo, tão criticado nas últimas semanas.

Gleisi destacou a importância de conciliar o perfil técnico com o político, destacando que Dilma soube muito bem exercer ambos. Agradeceu ao marido e ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, "com quem aprendi que sempre vou acertar quando escutar o coração". E aos filhos, presentes ao evento: "Que sua mãe seja um exemplo para vocês." (Com agências noticiosas)