Título: Petistas disputam Pasta de Luiz Sérgio
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 09/06/2011, Política, p. A8

A cúpula do PT está preocupada com o risco de a substituição do ministro Luiz Sérgio, das Relações Institucionais, acirrar a briga entre os dois grupos do partido que disputam hegemonia na Câmara dos deputados - o do líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), e do ex-presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), apoiados, respectivamente, por dois pesos-pesados da bancada: o ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP) e o atual presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS). O acirramento pode fazer com que a bancada do partido naquela casa perca o cargo.

Vaccarezza e Chinaglia disputam a vaga de Luiz Sérgio e pedem apoio na bancada. O ex-presidente Lula foi chamado a tentar um entendimento entre eles até a segunda-feira. Mas Luiz Sérgio, desconfortável com o desgaste, ontem deu sinais de que não está disposto a esperar no cargo. Segundo informações de dirigentes petistas, não está descartada a sua saída hoje ou amanhã.

A cúpula petista tinha a intenção de realizar uma reunião com Lula, ex-presidentes do PT e ex-líderes do partido para tentar um acordo de procedimentos, que impedisse um racha maior, qualquer que fosse a escolha da presidente Dilma Rousseff. A avaliação do partido é que o substituto do Luiz Sérgio tem que ser da Câmara, porque é lá que estão os maiores problemas do PT, tanto internamente, quanto na relação com o PMDB e com outros partidos da base.

O PT do Senado concorda com essa posição. A cúpula petista está preocupada com o risco de a briga aumentar ainda mais depois da substituição de Luiz Sérgio. Ou, ainda, de a presidente Dilma buscar outra solução, como a escolha de um petista que não seja da Câmara - como o da ministra Ideli Salvatti, nome que chegou a ser cogitado ao longo da tarde de ontem.

Hoje, a Secretaria de Relações Institucionais e a liderança do governo estão com o grupo de Vaccarezza. O receio é que, se Dilma optar por Vaccarezza, o grupo de Chinaglia vai brigar pela liderança do governo. Se ela optar por Chinaglia, o grupo de Vaccarezza vai dizer que a outra ala tem a SRI e a presidência da Câmara.

Portanto, a conclusão é que a solução tem que passar por uma "repactuação" na bancada. "Se não for feito um pacto, o PT pode perder o protagonismo na Câmara", disse um dirigente petista. Se não tiver acordo, a bancada pode perder a SRI.

Esta foi a razão da opção de Dilma pela manutenção temporária do ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio. Além de tentar acalmar o PT, em especial sua bancada de 88 deputados, a presidente vai envolver-se pessoalmente nas conversas para acalmar também o PT de São Paulo, que se sentiu diminuído com a saída de Palocci.

Os líderes do PT de São Paulo defenderam a tese de que o modelo de interlocução política faliu e a substituição de apenas uma das peças, Antonio Palocci, não resolveria o problema das relações entre a Presidência da República e o Congresso Nacional.

Os mesmos dois grupos que se rivalizam e disputam a supremacia dentro e fora da bancada da Câmara passaram o dia fazendo articulações e tentando emplacar seus preferidos. A disputa atual repete o duelo interno que levou, em dezembro, Maia a ser escolhido, contra Vaccarezza, o nome da legenda para presidir a Câmara. E que até hoje gera consequências, sendo a maior delas a formação de dois fortes grupos antagônicos entre os deputados.

Dilma foi informada pelo presidente do PT, Rui Falcão, dos interessados na vaga de Luiz Sérgio e do que já estava ocorrendo na bancada. Sua interlocução com Falcão, aliás, tem sido considerada uma "grata surpresa" pelos petistas.

Não gostou do que ouviu e, a fim de evitar que após sua maior crise se instalasse outra dentro de seu partido e, pior, cujo final pudesse agradar apenas uma das metades da bancada, Dilma havia optado por manter Luiz Sérgio, ao menos por um prazo suficiente para resolver essas questões ou para, se ajudado por outros, conseguir demonstrar resultados.

A avaliação é de que, com as superatribuições de funções de Palocci e o peso político do ministro demitido, Luiz Sérgio não pôde mostrar seu eventual potencial.

Cientes da insatisfação da presidente com o conflito interno, os dois grupos insinuaram que poderiam fazer um acordo, pelo qual Vaccarezza iria para o ministério e Chinaglia assumiria a liderança do governo em seu lugar. Não foi suficiente, porém, para contornar a decisão temporária do Palácio.

Deputados do PT, contudo, apostavam que o modelo ruiu e que a saída de Luiz Sérgio deverá ocorrer em breve. Até lá, os dois grupos continuarão a atuar nos bastidores para se cacifar para o posto. Para o líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira (SP), a interlocução de Luiz Sérgio com o Congresso é boa e poderia melhorar com a reformulação de papéis na Casa Civil: "Ele tem ótima relação com os deputados e agora que as funções da Casa Civil serão redefinidas seu trabalho será facilitado."