Título: Saldo com o mundo será maior em 2011
Autor: Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 16/05/2011, Brasil, p. A4

De São Paulo O forte desempenho das exportações nos primeiros quatro meses deste ano, que resultou em um superávit comercial de US$ 5 bilhões, valor 132% superior ao resultado acumulado entre janeiro e abril de 2010, levou o mercado a rever para cima suas previsões para o saldo da balança para 2011.

A Associação Exportadora Brasileira (AEB) revisará suas projeções apenas em julho, mas o dirigente da entidade José Augusto de Castro adianta que poderá acrescentar até US$ 7 bilhões ao saldo comercial previsto inicialmente, no fim do ano passado, de US$ 26 bilhões. Com a mudança, a AEB acredita que a balança poderá encerrar 2011 com saldo de US$ 32 bilhões, o que representaria um salto de mais de 55% sobre o fechamento de 2010, de US$ 20,3 bilhões.

"É uma projeção simples, em função das exportações, que podem atingir US$ 232 bilhões, US$ 233 bilhões, e do número de dias úteis do ano, não estou entrando na ponta do lápis", explica Castro.

Diante da disparada do superávit comercial no quadrimestre, puxado principalmente pelos altos preços das matérias primas no mercado internacional, a RC Consultores alterou a projeção para a balança do país para este ano há 15 dias, de US$ 20 bilhões para US$ 25 bilhões. "Alteramos porque observamos um aumento importante dos preços das commodities, ainda que os volumes não estejam crescendo de forma significativa", afirma Fabio Silveira, sócio-diretor da RC.

O analista de macroeconomia da Tendências Consultoria Silvio Campos Neto acrescenta que, dados o cenário de recuperação da demanda externa e os preços das commodities, o escritório cravou, em janeiro, US$ 28 bilhões como possível saldo comercial em 2011. Ele argumenta que a projeção está em linha com a trajetória da balança nos primeiros meses do ano, mas não descarta elevar os números nas próximas semanas. "Já viemos com uma projeção mais puxada desde o início do ano, maior que a de outras consultorias. Mesmo assim, o ritmo de crescimento até agora foi muito forte, talvez ajustaremos nossa corrente de comércio nos dois lados [importação e exportação]", diz Campos Neto.

Segundo ele, o superávit comercial também pode ser influenciado por uma desvalorização do câmbio, principalmente nos últimos meses do ano. A trajetória de ligeira valorização do dólar frente ao real nas últimas duas semanas é um indício da análise. "O dólar forte contribui para as exportações, trabalhamos com uma alta dessa variável. Estamos hoje com o dólar cotado a R$ 1,60, mas chegando perto de R$ 1,70 no fim do ano. Levamos em conta, principalmente, o efeito externo, como uma mudança de rumo na política monetária do banco central americano", completa Campos Neto.

O governo brasileiro também mudou sua projeção para a balança comercial neste ano. No início de maio, o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, anunciou um acréscimo de 21% na meta de exportações do país, de US$ 228 bilhões para US$ 245 bilhões.

Na visão oficial, a nova meta é conservadora. Já para Campos Neto, da Tendências, e Silveira, da RC Consultores, o objetivo é factível. Mas para José Augusto de Castro, da AEB, o valor é "mais do que ambicioso". "O Brasil terá que exportar US$ 1,030 bilhão por dia útil para chegar na meta. A média diária do ano não chega a US$ 900 milhões."