Título: Oposição vence e promete austeridade em Portugal
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Fonte: Valor Econômico, 06/06/2011, Internacional, p. A11

Agências internacionais

A crise financeira na Europa vitimou mais um governo. A oposição venceu ontem as eleições legislativas em Portugal. O novo governo deve ser chefiado por Pedro Passos Coelho. Sua missão será aplicar as duras medidas de austeridade impostos pelo pacote de ajuda ao país de ¿ 78 bilhões da União Europeia e do FMI.

Com a apuração praticamente encerrada na noite de ontem, o Partido Social Democrata (PSD, que é conservador, apesar do nome) obteve 39% dos votos e ficou com 105 das 230 cadeiras do Parlamento português.

O Partido Socialista, do premiê demissionário, José Sócrates, obteve 28% dos votos e ficou com 73 cadeiras. Os socialistas, que governavam sem maioria no Parlamento desde 2009, admitiram a derrota logo após a divulgação das pesquisas de boca-de-urna. Sócrates anunciou que deixará a liderança do partido.

Com o resultado, Passos Coelho deverá formar um governo de coalizão com o Partido Popular (também conservador), que ficou em terceiro lugar, com 12% dos votos e 24 cadeiras. A coalizão teria uma maioria de 129 deputados.

"Os anos que nos esperam vão exigir de todo o nosso Portugal muita coragem. Sabemos as dificuldades que enfrentamos. Precisamos de muita coragem para vencer as enormes dificuldades, precisamos também de alguma paciência, porque nós sabemos que esses resultados não aparecerão em dois dias", disse Passos Coelho em discurso da vitória, ontem à noite em Lisboa. Ele ressaltou que o futuro será "difícil".

"O desejo de mudança do povo português é inequívoco e claro", disse ontem Miguel Relvas, secretário-geral do PSD.

O premiê Sócrates renunciou em março, após o Parlamento rejeitar um novo plano de corte de gastos públicos. Sem esse plano, os juros cobrados para a rolagem da dívida portuguesa subiram, e o país teve de recorrer à ajuda da UE e do FMI. Grécia e Irlanda também receberam pacotes de ajuda.

Mas o pacote não aliviou o temor dos investidores em relação a Portugal. O prêmio de risco exigido para a rolagem de títulos de dez anos da dívida portuguesa está em 675 pontos-base (acima do título de referência alemão), bem mais do que os 440 pontos cobrados quando Sócrates renunciou.

"No mercado de títulos, é possível que o resultado eleitoral seja visto como algo positivo no curto prazo. Mas não acho que será o suficiente para mudar a tendência dos títulos portugueses", afirmou Felipe Silva, gestor do Banco Carregosa, da cidade do Porto.

Durante a campanha eleitoral, os três principais partidos propunham novas pedidas de austeridade para cortar o déficit público português a 3% do PIB em 2013. A previsão do governo é que o déficit atinja 5,9% este ano, mas analistas estimam que, com o aprofundamento da recessão, o déficit deverá ser maior. O desemprego chegou a 12,4% no primeiro trimestre.

Passos Coelho, de 46 anos, nasceu em Coimbra. Ele morou em Angola, na época colônia portuguesa, dos 6 aos 10 anos. É formado em economia pela Universidade Lusíada, de Lisboa, e foi eleito deputado pela primeira vez em 1991. Trabalhou também no setor privado e foi diretor-executivo do Fomentinvest SGPS, fundo de Lisboa que investe em energia renovável.