Título: Riscos quando o combate à inflação começa a dar frutos
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 06/06/2011, Opinião, p. A12

O governo começa a colher alguns bons resultados na política de combate à inflação. A expansão do crédito está mais moderada; o resultado fiscal do primeiro quadrimestre garante praticamente metade da meta de superávit primário do ano; e a economia começa a mostrar sinais mais claros de desaceleração. A variação do IPCA entre junho e setembro será mais baixa, podendo inclusive registrar alguma deflação.

A prévia da inflação, medida pelo IPCA-15, teve alta de 0,70% em maio, percentual ainda elevado, mas menor do que o de abril (0,77%). A expectativa do mercado, conforme a última pesquisa Focus, do Banco Central (BC), é que ocorra acentuado recuo dos preços a partir deste mês. Entre junho e agosto, o IPCA deve oscilar abaixo de 0,3% ao mês, de acordo com a mediana das projeções coletadas pelo BC, podendo subir para 0,35% em setembro. Por efeitos estatísticos, porém, será justamente nesse período que o IPCA acumulado em doze meses estará na casa dos 7%.

A produção industrial apresentou queda de 2,1% de março para abril, de acordo com dados do IBGE. A oferta de crédito, que teve expansão de 21% até abril no acumulado de doze meses, indica uma substancial desaceleração. O crescimento do primeiro quadrimestre anualizado resulta em 13%, performance mais condizente com a necessidade de redução da demanda agregada e mais próximo do que recomenda o Banco Central.

A aceleração da inflação do ano passado para cá corroeu parte da renda dos trabalhadores, levando a uma queda do consumo. O governo, ao reduzir o ritmo de crescimento dos seus gastos, também corroborou com a diminuição da demanda que estava claramente descolada da oferta, gerando pressões inflacionárias.

Ao acumular, em quatro meses, praticamente metade do superávit primário prometido para o ano todo, o governo deu credibilidade ao compromisso fiscal, o que ajuda a melhorar as expectativas. Da meta de superávit de R$ 117,8 bilhões para 2011, o setor público consolidado, que envolve o governo federal, os Estados e os municípios, realizaram R$ 57,3 bilhões até abril. É fato que as receitas com impostos e contribuições aumentaram 3,5% em valores reais, ajudando no esforço. Mas as despesas caíram 2,1% em termos reais. Não se discute, aqui, a qualidade do gasto e dos cortes.

O fato é que a política de aperto monetário, de desaquecimento da expansão do crédito e de rigor fiscal começam a produzir resultados. A função desses instrumentos é fazer com que o Produto Interno Bruto (PIB) passe a crescer abaixo do seu potencial por um período de tempo determinado para desinflacionar a economia.

Nesta semana o Comitê de Política Monetária (Copom) reúne-se para, muito provavelmente, aumentar a taxa de juros Selic em mais 0,25 ponto percentual. O mercado aguarda com grande expectativa o que o comitê vai dizer em seu comunicado, na quarta-feira, especialmente se repetirá que o ciclo de aperto monetário será "prolongado" ou se retirará essa palavra do texto, indicando que aquele terá sido o último aumento de juros.

Todos os sinais enviados pelo Banco Central nos últimos dias são de que a batalha de controle da inflação não está vencida e que ainda haverá um duro trabalho para levar o IPCA, hoje de 6,51% no acumulado em doze meses, para o centro da meta de 4,5% até dezembro de 2012.

Neste momento, surgem alguns riscos. O mais óbvio é o governo não concordar em prosseguir com a elevação dos juros no momento em que a inflação mensal estiver bem baixa. Há sempre a tentação de abrandar as amarras impostas à economia para poder usufruir de um maior crescimento.

O secretário do Tesouro, Arno Augustin, quando anunciou os dados do quadrimestre, deixou claro que o objetivo do governo Dilma Rousseff não é fazer excesso de superávit. Admite-se que o governo possa, agora, aumentar um pouco os investimentos, até porque foi um dos gastos que tiveram maior controle no início do ano. Mas não é hora de o Ministério da Fazenda abrir os cofres públicos.

Se o ambiente na economia está menos tenso do que no início do ano, na política os conflitos estão abertos. Desde que foi publicada a notícia sobre o abrupto enriquecimento do ministro-chefe da Casa Civil, Antônio Palocci, encarregado da articulação com o Congresso, o Palácio do Planalto vive sob bombardeio dos partidos da base aliada, em busca dos cargos e dos recursos orçamentários.