Título: Gringo sai de jamanta e volta de bicicleta
Autor: Camba, Daniele
Fonte: Valor Econômico, 06/06/2011, Investimentos, p. D2

Depois de muita saída, a volta do investidor estrangeiro está animando o mercado. Em maio, o saldo líquido (diferença entre compras e vendas) de estrangeiro na Bovespa foi positivo em R$ 2,9 bilhões. Segundo reportagem de Beatriz Cutait publicada na sexta-feira, esse é o melhor saldo desde setembro do ano passado. O primeiro pregão deste mês mostra que a tendência de entrada de recursos continua, com um saldo positivo de R$ 229,8 milhões.

A direção do movimento é boa, no entanto, a intensidade ainda é muito pequena para se dizer que o estrangeiro resolveu apostar de forma consistente no mercado brasileiro. "Depois de sair tanto, o estrangeiro trouxe um pouco; isso é o mesmo que dizer que ele saiu da bolsa de jamanta e agora está voltando de bicicleta", ilustra o diretor de investimentos da Fundação Cesp, Jorge Simino.

egundo ele, em conversas com corretoras bastante atuantes entre o público internacional, todas elas destacam que as compras feitas por esses investidores ainda são tímidas, especialmente comparando com o volume do que venderam nos últimos meses."Essas corretoras ainda destacam o mau humor desse investidor com mercados emergentes", diz Simino. Com relação ao Brasil especificamente, ainda existe uma preocupação com a possibilidade de a política monetária gradualista adotada pelo Banco Central não conseguir domar a inflação.

Muito ou pouco, fato é que a volta do dinheiro internacional patrocinou a recuperação do Índice Bovespa em poucos pregões dos 62 mil para os quase 65 mil pontos.

Esses recursos voltaram graças ao conjunto de indicadores da economia brasileira que saíram nas duas últimas semanas, mostrando que o processo gradual de alta de juros pode sim controlar a inflação. Com o arrefecimento dos últimos índices de preços, o PIB do primeiro trimestre vindo dentro do esperado, o consumo apontando para uma acomodação e os números sobre o crédito trazendo um crescimento bem mais modesto, os investidores passaram a acreditar que a inflação deve convergir para o centro da meta no próximo ano. "A cada novo indicador, esse cenário, que parecia improvável, vai ficando mais factível", explica o diretor da Fundação Cesp.

A situação econômica internacional, especialmente a americana, é agora o que mais preocupa o investidor. Isso porque os números das últimas duas semanas mostram que a recuperação dos EUA depende de estímulos, como o pacote de recompra de títulos pelo governo. "A melhora dos EUA, que antes parecia provável, agora ficou nebulosa", diz Simino.

Para ele, o dinheiro só voltou a entrar na Bovespa porque as preocupações com a inflação local diminuíram. "A bolsa deve piorar tudo de novo se o mercado voltar a duvidar do sucesso da política do BC."

Daniele Camba é repórter de Investimentos