Título: PMDB cobra mais participação nas decisões
Autor: Ulhôa,Raquel
Fonte: Valor Econômico, 09/06/2011, Política, p. A10

O PMDB cobrou maior participação nas decisões políticas do governo. A cúpula do partido quer participar da definição de um novo modelo de coordenação e realçar o papel do vice-presidente, Michel Temer, na articulação política.

Lideranças do PMDB criticam a presidente Dilma Rousseff e dizem que o partido foi "traído", por causa do anúncio da nomeação da nova ministra chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, a Michel Temer, em cima da hora. Afirmam que, apesar da experiência política de Temer como ex-presidente da Câmara, o vice-presidente não foi ouvido pela presidente nessa crise política.

Ontem, com a crise ainda em fogo alto, em vez de reforçar o papel de Temer na costura política, Dilma pediu para ele coordenar o plano de segurança nas fronteiras. Isso irritou mais os pemedebistas.

O líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), mandou um recado direto para a presidente: "É hora de fazer um redesenho da articulação politica do governo. E o PMDB quer e vai participar desse redesenho."

Para o partido, a nomeação de Gleisi para a Casa Civil não resolve o problema que está havendo na relação do governo com o Congresso. Para o PMDB, o governo precisa de um articulador político com trânsito nas duas Casas do Congresso e ascendência sobre os partidos aliados e sobre os grupos internos dessas legendas.

Ontem, líderes do partido ficaram reunidos até meia noite no Palácio do Jaburu e, depois, a reunião continuou até as 4h em outro local. Participantes relatam que o clima foi tenso. Participaram das conversas os senadores José Sarney (AP), o líder do governo, Romero Jucá (RR), Eunício Oliveira (CE), Renan, o presidente do PMDB, Valdir Raupp (RO), Vital do Rego (PB) e os deputados Eduardo Cunha (RJ), o líder da bancada na Câmara, Henrique Alves (RN), e o ex-deputado Geddel Vieira Lima, hoje diretor da Caixa Econômica Federal.

O PMDB, que defendeu a permanência de Antonio Palocci mais do que o PT, se considera prejudicado com a falta de articulação política do governo, porque fica com a responsabilidade de defender o governo e atuar para derrubar propostas que contrariem os interesses do Palácio.

Ontem, por exemplo, o presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado conduziu a reunião de forma estratégica para impedir que a oposição não aprovasse requerimentos de convite a Palocci, para falar sobre sua evolução patrimonial. O líder do PSDB, Álvaro Dias (PR), e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) eram os autores dos requerimentos, votados em conjunto. A oposição alegava que, mesmo fora do governo, Palocci tinha explicações a dar à sociedade.

Para o PMDB, a crise é maior do que o episódio que abateu Palocci. O ex-ministro teria sido um sintoma, mas houve outras consequências, como a derrota do governo na votação do projeto do Código Florestal na Câmara e a derrubada de duas medidas provisórias no Senado, na semana passada.

Os líderes dizem que querem contribuir com a definição de um novo modelo de articulação política para o governo, mas negam que a intenção seja indicar alguém para a Secretaria de Relações Institucionais, ocupada por Luiz Sérgio (PT).

Alguns senadores demonstraram também preocupação com o temperamento da nova ministra, lembrando que ela já teve problemas com senadores do partido. Gleisi vinha discordando do líder do governo, Romero Jucá.

O partido quer também ter uma participação mais ativa na definição de estratégias. "Não adianta mandar um projeto para o Congresso e dizer que o PMDB deve votar desta ou daquela maneira", disse uma liderança do partido.

O PMDB, segundo dirigentes do partido, não quer o cargo de ministro da Secretaria de Relações Institucionais, não indicará nomes para a pasta nem tampouco vetará qualquer indicação que o PT venha a fazer. Se a presidente Dilma quiser manter Luiz Sérgio, o partido apoiará. Se quiser mudar, também não haverá objeção. Mas exige dividir a tarefa de governo, o que inclui mais cargos para o partido.