Título: Gleisi Hoffmann substitui Palocci e reduz PT paulista
Autor: Costa,Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 08/06/2011, Política, p. A5

Após 23 dias de crise, a presidente Dilma Rousseff demitiu ontem o ministro Antonio Palocci e nomeou para o seu lugar a senadora Gleisi Hoffmann, do PT do Paraná, para a chefia da Casa Civil. Palocci perdeu apoio da maioria do PT. Sua manutenção ameaçava envolver o governo Dilma em uma crise no Congresso, apesar da ampla maioria da base de apoio da presidente. Havia o risco de a oposição conseguir reunir o número necessário de assinaturas para instalar uma CPI a fim de investigar o enriquecimento de Palocci.O vice-presidente Michel Temer foi comunicado da decisão por Dilma no fim da tarde. Os caciques do PMDB, partido do vice, se reuniriam à noite para avaliar a nova configuração política do governo, da qual a sigla continua distante. Gleisi teve atritos com o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB), por conta de acordos feitos no governo passado pelo senador com a oposição. Ela acha que a situação, sempre que necessário, tem de fazer valer a sua maioria.

A nova ministra, por exemplo, acha que o governo deve votar logo o Código Florestal, talvez em agosto, como quer a presidente da República. Ela aplaudiu os primeiros movimentos no Senado no sentido de um entendimento, como a iniciativa do relator Jorge Viana (PT-AC) de procurar o relator do Código Florestal na Câmara, deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP).

Temer disse a aliados que a nomeação de Gleisi Hoffmann tinha pelo menos um mérito: era uma escolha da presidente Dilma Rousseff e não uma imposição do PT de São Paulo. De fato, Gleisi tem relações antigas com a presidente. Dilma era do conselho de administração da Itaipu Binacional, enquanto Gleisi era diretora financeira da empresa. Mas é certo que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi decisivo na definição - além de amigo de Gleisi, a senadora é mulher de seu ex-ministro do Planejamento Paulo Bernardo, atualmente nas Comunicações.

O PT paulista perdeu o ministro mais bem posicionado da República - a Casa Civil é o coração do governo -, mas a escolha da nova ministra teve o aval do presidente do partido, deputado estadual Rui Falcão, que participou de todas as etapas das negociações que culminaram com a saída de Palocci e a nomeação de Gleisi, mas sobretudo o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula Silva, que tentou manter Palocci no cargo até que ficou claro que ele não reunia mais condições políticas para permanecer.

A nova ministra é uma técnica, especialista em orçamento, mas não deve restringir sua participação política no governo. Gleisi concorda com uma máxima política corrente no Congresso, segundo a qual "oposição fala e governo vota". Ela defende que o PT deve participar do debate político e não se encolher quando está sob o ataque da oposição, como ocorreu durante a crise do ministro Palocci.

O maior temor de Gleisi, no período, era que o governo ficasse refém do PMDB, diante de um Palocci enfraquecido. Como senadora, achava que o PT e o governo estavam se desgastando demais, o que só valeria a pena se Palocci efetivamente fosse o "sustentáculo" do governo, o que não era o caso em sua opinião, segundo apuração do Valor. Mas a senadora não pediu a demissão do ministro numa reunião com Lula, como chegou a ser noticiado. Se não fosse a crise Palocci, a nova ministra acha que o governo Dilma estaria bem melhor.

No que se refere à gerência do governo, a nova ministra tem ideias bastante claras. Ela condena, por exemplo, segundo apurou o Valor, a leniência de alguns de seus agora colegas de governo com o "corporativismo". Gleisi, porém, acha que o Ministério da Coordenação Política e Relações Institucionais, ocupado pelo petista fluminense Luiz Sérgio, deve ser fortalecido.

Palocci já tinha a carta de demissão redigida no início da tarde de ontem. O ex-ministro perdeu apoio em seu partido no momento em que foi divulgada uma reportagem da "Folha de S.Paulo" sobre a evolução de seu patrimônio, multiplicado por 20 no prazo de quatro anos.

O movimento para que o governo aproveitasse o desgaste do chefe da Casa Civil e fizesse uma "limpeza" na coordenação política começou por um ex-presidente da sigla, Ricardo Berzoini, logo encontrou ressonância no ex-presidente da Câmara Arlindo Chinaglia - os dois de São Paulo - e nas correntes Mensagem e DS. Berzoini foi um dos petistas que mais perderam espaço na mudança de governo. Ele exercia forte influência na área dos bancos estatais e fundos de pensão desde o governo do tucano Fernando Henrique Cardoso. A posse de Dilma marcou o início da sua perda de terreno.

Segundo aliados do ex-ministro José Dirceu, já no fim ele deu uma trégua a Palocci, ao perceber a extensão da derrota do grupo paulista do PT. Rui Falcão, aliás, reclamou de que os jornais sempre criticaram o fato de o governo ter muitos petistas de São Paulo, e agora, quando entra uma paranaense, passe a registrar perda para os paulistas. Falcão, em todas as fases do processo, trabalhou sobretudo no sentido de preservar o PT - o partido, por exemplo, não divulgou nota de apoio a Palocci, semana passada, como pediam setores aliados do ex-ministro da Casa Civil.

As explicações dadas por Palocci na sexta-feira apontavam que o ministro já traçava o roteiro para a saída, quando ele dizia que não havia uma crise no governo, o problema era ele. O que Dilma e seus principais aliados constataram ao longo do fim de semana foi que, ao contrário, a crise já estava no governo e ameaçava se aprofundar. Palocci também já dava sinais de fraqueza, ao admitir comparecer à Câmara para explicar a evolução de seu patrimônio, desde que fosse convidado. O presidente da Casa, Marco Maia (PT-RS), nem se deu ao trabalho de negociar com os partidos - da situação e da oposição - o depoimento do ministro.