Título: Estarei comprometida com a gestão, diz Gleisi
Autor: Ulhôa , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 08/06/2011, Política, p. A6

A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) anunciou ter sido convidada pela presidente Dilma Rousseff para desempenhar o papel de "gestora" na Casa Civil da Presidência, cuja chefia assume hoje, às 16h. Será "a Dilma da Dilma", segundo definiu o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE)."A presidenta Dilma quer o funcionamento da Casa Civil na área de gestão, de acompanhamento dos processos e dos projetos. Eu conheço a presidente Dilma da equipe de transição do governo Lula, e tive oportunidade de trabalhar com ela em vários projetos quando fui diretora financeira de Itaipu e ela, ministra de Minas e Energia. Ela disse que meu perfil se adequa àquilo que ela pretende agora na Casa Civil, de acompanhamento dos projetos do governo. É uma ação de gestão. É com isso que estou comprometida", afirmou Gleisi, na rápida entrevista que concedeu, no Senado, à noite, após conversar com a presidente.

A nova ministra afirmou que fará hoje um pronunciamento no plenário do Senado - no começo da tarde, antes da posse na Casa Civil- dirigido aos senadores, inclusive os de oposição, a quem disse respeitar muito. "Sei da minha responsabilidade nesse processo. Aceitei esse convite sabendo do tamanho da responsabilidade", disse.

Gleisi tem conduta criticada pelos senadores de oposição, pela firmeza com que defende o governo e pela opinião de que a base aliada deveria exercer sua maioria quando não houver acordo. O líder do DEM, Demóstenes Torres (GO), atribui a ela a responsabilidade pela derrubada de duas medidas provisórias na quarta-feira da semana passada.

Ela foi contra um acordo patrocinado pelo líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), que previa inversão de pauta para que ao menos uma delas, que tratava de remuneração dos médicos residentes, fosse aprovada. Ela alegou que, se essa MP fosse votada antes, a oposição obstruiria a votação da outra - que criava empresa pública para administrar hospitais universitários. No fim, nenhuma foi votada e ambas perderam a validade.

A ministra, no breve pronunciamento após ser confirmada, elogiou Palocci. "Para nós, é um momento triste. Sabemos do relatório da Procuradoria, que colocou de forma muito clara a situação do ministro, falando que não há nenhum problema. É uma pena perder o ministro Palocci nesse governo, pela qualidade que ele tem. Pude acompanhá-lo desde a equipe de transição do governo Lula. É um companheiro de partido e de caminhada e que foi muito importante para o processo de transformação desse Brasil."

Numa tentativa da bancada de mostrar unidade, depois de um dia de conflitos internos a respeito da crise Palocci, Gleisi deu a entrevista cercada de senadores petistas e do líder, que reforçou o fato de a articulação política não estar entre as funções da futura ministra. "Ela vai ficar única e exclusivamente com o trabalho de gestão. Na prática, ela vai ser a Dilma da Dilma", disse Costa.

Costa disse não saber como será exercida a articulação política do governo a partir de agora. Admitiu a possibilidade de o ministro Luiz Sérgio (Relações Institucionais) desempenhar todo o trabalho. "É possível que ele vá concentrar as articulações com o Congresso e as articulações de um modo geral", afirmou.

Assim como Gleisi - e outros senadores petistas -, o líder lamentou a saída de Palocci do governo. "Sem dúvida o ministro Palocci cumpria papel fundamental no governo, o pior é que sai no momento em que consegue provar que tudo o que está sendo dito é ilação, até porque o procurador-geral da República tratou de eximi-lo de responsabilidade. Mas infelizmente a política é assim."

Para Lindbergh Faria (PT-RJ), a escolha foi "maravilhosa", porque Gleisi "é uma cara nova, que vai representar um momento novo e vai criar fato político positivo".

Com a indicação de Gleisi, o PMDB ganha mais força no Senado. Aumentará sua bancada de 19 para 20 parlamentares. A do PT cairá de 15 para 14. Isso porque o suplente de Gleisi é o advogado Sérgio Souza, uma indicação do ex-governador do Paraná Orlando Pessuti (PMDB). Souza é sócio do filho de Pessuti num escritório de advocacia. (Colaborou Cristian Klein, de São Paulo)