Título: Palocci ainda confiava na permanência
Autor: Lyra ,Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 08/06/2011, Política, p. A6

A demissão do chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, foi acertada com a presidente Dilma Rousseff na primeira reunião do dia entre ambos, apesar do empenho do ex-ministro em permanecer no cargo e dar a impressão, durante todo o dia, de que não sairia. Palocci ficou entusiasmado com a decisão do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, de arquivar as denúncias contra ele e achou que poderia ter uma sobrevida política, tanto que, em contato com o presidente da Câmara, começou a negociar seu comparecimento para dar explicações ao Parlamento. Mal chegou ao Planalto, reuniu-se a sós com Dilma e foi informado de que estaria fora do governo.

Mesmo assim foi à cerimônia de lançamento da Conferência Rio+20 e participou do almoço com a bancada de senadores do PTB, prometendo, inclusive, que poderia ajudar na tramitação do Código Florestal na Casa, se isso fosse necessário.

No meio da tarde, Dilma retornou ao Planalto e chamou, imediatamente, Gleisi Hoffmann para uma conversa no gabinete presidencial. Convite aceito, Dilma recebeu o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, para uma solenidade fechada e reuniu-se novamente com Palocci, com a ministra da Comunicação Social, Helena Chagas, e com o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho. Responsável pela coordenação política do governo com o Congresso, o ministro Luiz Sérgio, como sempre, ficou à margem da movimentação ao longo do dia.

Palocci chegou a acreditar que seria possível reconstruir seu capital político após o parecer favorável da Procuradoria-Geral da República, divulgado na noite de segunda-feira. Chamou o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS) e o líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira (SP), autorizando que eles negociassem uma audiência no Congresso. Poderia ser até uma audiência mista, para evitar descontentamentos entre os senadores. Sua equipe começou a dar informações sobre essas providências.

Palocci também conversou com o presidente do PT, Rui Falcão. Pediu que ele ajudasse a conter os rebeldes no partido. Mas a coordenação da bancada petista na Câmara recusava-se a divulgar qualquer nota de apoio ao então ministro. Ao contrário, reforçou apoio a Dilma "qualquer que fosse a decisão da presidente".

A resistência do ministro foi arrefecendo até que do meio para o fim da tarde não havia mais notícia sobre a sua confiança em permanecer. Na avaliação de auxiliares da presidente, a escolha de Gleisi, mesmo que surpreendente, foi tomada para evitar mudanças bruscas na estrutura de poder na Esplanada. Na segunda-feira o nome mais provável para o cargo era o da ministra do Planejamento, Miriam Belchior. Caso Miriam fosse para a Casa Civil, a presidente teria que escolher um ministro para o Planejamento. Se fosse deslocado Paulo Bernardo, que já ocupou a Pasta, o Ministério das Comunicações, que dirige atualmente, teria também que sofrer mudanças.

Autoridades da Presidência da República comentavam ontem que a presidente fará mudanças mais amplas no ano que vem, quando boa parte da Esplanada e do Congresso deve disputar as eleições municipais. E avaliou que valeria mais a pena uma mudança pontual neste momento sem alterar a correlação de forças na Esplanada.

O Palácio do Planalto não explicou, ontem, como e se a presidente trocará também o ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio, cuja atuação insuficiente se evidenciou muito com a crise Palocci.