Título: PT e PMDB cobram mudanças na articulação política
Autor: Junqueira,Caio
Fonte: Valor Econômico, 08/06/2011, Política, p. A6

Os dois principais partidos governistas, PT e PMDB, aproveitaram a queda do ministro Antonio Palocci para cobrar do Palácio do Planalto uma nova forma de articulação política entre o Executivo e o Legislativo. A diferença, porém, é que os pemedebistas foram mais enfáticos ao defender que a Casa Civil e sua nova ministra, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), atue na gestão do país, enquanto a Secretaria de Relações Institucionais se dedique apenas à política.

"Ela [Gleisi] deverá tratar sobre como será a articulação primeiro no governo e depois com as lideranças políticas do Congresso. Precisamos restabelecer e rediscutir parâmetros de relação e interferência no Congresso. O que espero é que isso ocorra da forma mais transparente possível", disse o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS).

"Agora começa um novo jogo. Palocci vinha acumulando muitas funções e estava sobrecarregado. Cuidava da gestão, do assessoramento da presidente e da articulação política com o Congresso", afirmou o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). O líder do PT, Paulo Teixeira (SP), foi na mesma linha. "Todo momento em que você troca uma equipe é também preciso fazer um ajuste fino entre os atores. Neste momento será fundamental diálogo para esse ajuste."Os pemedebistas, porém, pareciam estar de pé atrás quanto ao novo modelo que viria a ser adotado na articulação política. "Tem que ver qual será o modelo. Ainda não sabemos como ele virá", afirmou o vice-líder do PMDB, deputado Eduardo Cunha (RJ).

A ideia que circulava no partido era de que a Secretaria de Relações Institucionais, ocupada pelo ministro Luiz Sérgio, fosse fortalecida para fazer apenas a relação com o Legislativo, deixando a Casa Civil para a gestão do país. "Esperamos que o Luiz Sérgio tenha agora autonomia plena na articulação política, que antes ficava muito concentrada com Palocci", disse o líder Henrique Alves.

Uma reunião para discutir o assunto estava agendada para ontem à noite, no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente Michel Temer, presidente licenciado do PMDB. Havia preocupação com garantias feitas por Palocci referentes a reivindicações que o partido vinha fazendo desde o início do ano e que, após a crise, estavam em avançado estágio de definição.

Ao contrário do que disse Paulo Teixeira e Marco Maia, o líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), negou a necessidade de um redesenho político generalizado. "Nunca houve falta de interlocução com o Congresso. Nesses últimos cinco meses aprovamos 18 MPs na Câmara e 15 no Senado. Aprovamos três estatais, trem-bala, mais cargos no INSS", disse. Lembrou, contudo, que "não disse que tudo funciona bem, mas que não havia desarticulação".

Com a saída de Palocci, a oposição diminuiu o tom da luta política. As reuniões entre integrantes do DEM e PSDB de um lado; e do PT, PMDB, e do governo de outro, para decidir sobre a ida ou não de Palocci à Câmara para prestar esclarecimentos se tornaram inócuas após o anúncio de seu desligamento do governo.

Todos estavam na sala da presidência da Câmara aguardando o resultado da conversa entre Dilma e Palocci. Se ele se mantivesse no cargo, a tendência era de que fosse convidado para depor, e não mais convocado. Ao optar por sair, o requerimento de convocação foi considerado inepto porque apenas ministros podem ser convocados, cidadãos "comuns", não. "O crescimento da crise se estanca quando ele pede demissão. Naturalmente o presidente da Câmara vai considerar o assunto prejudicado", disse o líder do DEM na Câmara, ACM Neto (BA).

Ele, porém, garantiu que irá apresentar um requerimento de convite a Palocci em alguma comissão, ainda a ser definida, bem como outros requerimentos que a oposição anunciara à tarde. Um deles é para convidar o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, para explicar por que arquivou o caso.

No Senado, onde ontem à tarde havia crescido a chance de aprovação de uma CPI contra o ex-ministro, - já que dois senadores do PDT assinaram o pedido, somando 26 - à noite, sua realização já era incerta. "Vamos continuar insistindo, mas como os governistas haviam dito que se o ministro deixasse o cargo eles retirariam suas assinaturas, agora fica mais difícil", disse o senador Demóstenes Torres (DEM-GO).

Mesmo assim, a escolha da senadora Gleisi Hoffmann foi recebida com preocupação pela oposição, por causa da sua postura nos primeiros meses de mandato. "A atuação dela no plenário levou à derrubada de duas MPs", disse Demóstenes. A senadora, vice-líder do governo na Casa, defendia que o governo deveria utilizar sua supremacia numérica sobre a fragilidade da oposição.

O senador Aécio Neves (PSDB-MG) disse que Palocci tomou "a decisão sensata" ao deixar a chefia da Casa Civil. "Ele percebeu que, com a experiência que tem, que estava criando dificuldades intransponíveis para o governo", afirmou o senador, para quem é preciso que o governo tenha rapidez na recomposição da articulação política no Congresso. O senador também criticou a relação do governo com a oposição. "É preciso que a oposição seja respeitada", disse. Para Aécio, haveria o risco de o governo continuar "imobilizado" com a crise aberta por Palocci. "Existiria sim o risco de uma convocação ou até mesmo da criação de uma CPI, cujas assinaturas estavam quase sendo alcançadas", disse.

O presidente nacional do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), afirmou que a saída do ministro não encerra a crise. "Ele se foi e nada ficou esclarecido. Se era para não esclarecer, Palocci deveria ter saído antes". Para o líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR), a oposição vai continuar coletando assinaturas para a CPI para investigar a evolução patrimonial de Palocci. "Nosso dever é tentar investigar". (Colaborou Ana Paula Grabois, de São Paulo)