Título: Caixa descola-se da defesa do ministro
Autor: Romero, Cristiano
Fonte: Valor Econômico, 26/05/2011, Política, p. A6

De São Paulo

Nota divulgada ontem pela Caixa Econômica Federal (CEF) mostra que a instituição não busca contemporizar a frágil situação do ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci. O banco estatal respondia sobre um recurso que seus advogados entraram na Justiça Federal em novembro no qual apontaram o ministro como o responsável pela quebra de sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, em 2006, quando Palocci ocupava o Ministério da Fazenda, no primeiro governo Lula.

Na nota, a CEF se limitou a afirmar que "não discute suas estratégias de defesa em processos judiciais". A limitada disposição em defender Palocci já começa a se repetir no próprio PT, que tenta descolar-se da imagem do ministro, até pouco tempo considerado um dos mais poderosos do Planalto.

Na avaliação de parte do comando do partido, Palocci só teria, a partir de agora, uma função de gerir a burocracia do governo, sem aparecer. "Ele deixa de ser uma figura pública, não é mais candidato a nada, nunca mais", disse um dirigente da legenda.

Outro fato que incomoda muito a direção do partido é a reação da militância ao rápido enriquecimento do ministro, demonstrado com a compra de um apartamento de luxo na região mais valorizada de São Paulo, no valor de R$ 6,6 milhões.

O PT também se preocupa que o clima de denuncismo desencadeado pelo caso Palocci acabe por afetar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, principal figura do partido e articulador informal do governo Dilma. Nessa semana, a amizade de Lula com o empresário rural José Carlos Bumlai foi lembrada em um contexto de denúncia de corrupção na Prefeitura de Campinas (SP).

Lula não é investigado pelos procuradores do Ministério Público Estadual de São Paulo, mas é citado em uma conversa telefônica interceptada pela polícia. Bumlai é suspeito de participar de um esquema de desvio de recursos na Prefeitura de Campinas (SP). O vice-prefeito da cidade, o petista Demétrio Vilagra, está com prisão decretada por suposto envolvimento no caso.

A estratégia do PT, por enquanto, é de esperar a crise passar enquanto isola o ministro Palocci da sigla e de Lula. O partido avalia que a saída de Palocci do cargo agora seria prejudicial ao governo da presidente Dilma Rousseff, que nada comentou sobre o tema.