Título: Provocação agita o encontro
Autor: Padoan, Pier Carlo
Fonte: Valor Econômico, 26/05/2011, Especial, p. A14

De Paris

A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) não é legítima para participar dos encontros no G-20, porque não é uma entidade global.

Quando o subsecretário de Assuntos econômicos do Itamaraty, embaixador Valdemar Carneiro Leão, fez essa afirmação ontem em evento na organização composta por 34 países ditos ricos (ainda), houve alguns risos desajeitados e certamente o despertar de alguns na plateia.

No entanto, o secretariado da OCDE, que está comemorando 50 anos, reagiu como se tivesse sido nocauteado pelo Brasil, um dos países que a entidade mais deseja atrair como sócio, ao lado de China, Índia e Rússia.

Gabriela Ramos, chefe de gabinete do secretário-geral Angel Gurria e a principal assessora dele para o G-20, imediatamente procurou Carneiro Leão para discutir a afirmação. Depois saiu relativamente aliviada. "Ele disse que foi só uma provocação", afirmou.

A OCDE busca repensar seu papel para ter relevância no pós-crise global. Vai de conselhos econômicos a combate a paraísos fiscais, e aumentou sua expertise em mudança climática e questões ambientais. Também propôs um índice para medir a felicidade das nações sem levar em conta o PIB e economistas, e sim as pessoas.

Com o G-20 se transformando no diretório econômico do planeta, a OCDE foi convidada, como ONU, OMC e Banco Mundial, a participar de algumas reuniões com os chefes de Estado e elaborar estudos, no cenário de governança global. E considera que seu papel foi legitimado pela aceitação de todos os líderes do G-20, incluindo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O representante do Itamaraty, após sua intervenção, foi em todo caso calorosamente elogiado pelo diretor de comunicação da OCDE, Anthony Gooch, que aparentemente não ficou atento a todo o debate. "Sua intervenção foi fantástica", afirmou Gooch, apertando as mãos de Valdemar Carneiro Leão. (A.M.)