Título: Evangélicos aumentam pressão contra projeto anti-homofobia
Autor: Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 01/06/2011, Política, p. A7

De São Paulo

Os evangélicos aumentaram a pressão contra o projeto de lei anti-homofobia, em tramitação no Senado. O pastor Silas Malafaia, líder evangélico com forte influência midiática, organizou uma manifestação para a tarde de hoje, em frente ao Congresso Nacional, para tentar barrar o PL 122, que criminaliza qualquer ação, opinião ou crítica que possa ser interpretada como discriminação ou preconceito ao homossexualismo. O movimento tem apoio também de lideranças católicas, que consideram o projeto "heterofóbico".

O pastor Malafaia tenta coletar 1 milhão de assinaturas para apresentar um projeto de iniciativa popular para impedir a criminalização da homofobia.

Os evangélicos são contra o projeto pois consideram que os pastores poderão ser punidos se condenarem o homossexualismo nas pregações a fiéis. Líderes de outras religiões, como a católica, dizem que o PL 122 é uma "afronta à liberdade religiosa e de expressão" e articulam a participação no evento de hoje.

O projeto anti-homofobia, relatado pela senadora Marta Suplicy (PT-SP) e bandeira do movimento gay, esteve na pauta das negociações da então candidata à Presidência Dilma Rousseff com os evangélicos durante a campanha eleitoral. Os religiosos pediram à petista que vetasse a proposta, se eleita. Dilma garantiu aos religiosos que não aprovaria nada que pudesse interferir na pregação religiosa.

O projeto já gerou polêmica no Congresso. Na Comissão de Direitos Humanos do Senado, a discussão sobre o PL 122 teve de ser interrompida depois que deputados trocaram xingamentos. O desentendimento começou com a distribuição de folhetos anti-gays pelo deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ).

A bancada evangélica tem pressionado o governo para aprovar e barrar propostas de acordo com seus interesses. Na semana passada, conseguiram que o governo federal suspendesse a distribuição em escolas do kit anti-homofobia, composto por vídeos e apostila, pelo Ministério da Educação. Os parlamentares protestaram contra o material por considerar um "estímulo ao homossexualismo".

Os deputados da bancada evangélica ameaçaram o governo e disseram que ajudariam na coleta de assinaturas para convocar o ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, a se explicar sobre sua evolução patrimonial caso o Ministério da Educação distribuísse o kit. A bancada é estimada em 73 deputados, cerca de 15% do total da Câmara.

Ontem, o vice-presidente da Frente Parlamentar Evangélica, Anthony Garotinho (PR-RJ), fez uma nova ameaça ao governo e disse que se a PEC 300 não for votada pela Câmara, os deputados que defendem a proposta devem apoiar a convocação de Palocci. "O momento político é esse. Temos uma pedra preciosa, um diamante que custa R$ 20 milhões, que se chama Antonio Palocci", disse o deputado, na instalação da Frente Parlamentar de Defesa da PEC 300. A proposta cria um piso salarial para os policiais e precisa ser votada em segundo turno na Câmara.

"A bancada evangélica pressionou e o governo retirou o kit gay. Vamos ver agora quem é da bancada da polícia. Ou vota, ou o Palocci vem aqui", declarou o parlamentar. "Não fiz uma ameaça, fiz uma proposta, que teve uma grande receptividade da plateia. Já os deputados mais ligados ao PT ficaram constrangidos e saíram. Agora eu acho que o Palocci deve explicações à sociedade brasileira", afirmou Garotinho. (Com agências noticiosas)