Título: Na contramão, comunicações e bens duráveis não pressionam a inflação
Autor: Lamucci, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 07/06/2011, Brasil, p. A2

De São Paulo

Em um momento em que a alta de preços é bastante generalizada, os bens de consumo duráveis e, em menor medida, o grupo comunicação, dão algum alívio à inflação. Nos 12 meses até maio, o conjunto de bens como automóveis, eletroeletrônicos e móveis no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15) caiu 1,04%. Nesse período, o IPCA-15 "cheio" subiu 6,51%, um pouco acima do teto da meta, de 6,5%.

O câmbio valorizado, a forte concorrência dos importados e a evolução tecnológica - que barateia alguns desses produtos - ajudam a explicar esse comportamento benigno, segundo analistas. O grupo comunicação (que inclui itens como tarifas de telefonia, acesso à internet e TV a cabo) também sobe a um ritmo bem inferior ao da média dos preços, ainda que esteja em aceleração. Nos 12 meses até maio, a alta é de 1,76%.

A evolução mais favorável das cotações desses dois grupos impede uma alta mais explosiva dos índices de preços, embora a ajuda seja limitada, uma vez que, juntos, eles respondem por pouco menos de 14% do IPCA (8,3% os duráveis e 5,4% comunicação).O comportamento dos duráveis é disparado o fator mais benigno da inflação, destaca o economista Fabio Romão, da LCA Consultores. Os preços desses bens subiram um pouco no começo do ano - 0,17% em janeiro e 0,1% em fevereiro, segundo o IPCA-15 -, mas o movimento de alta, mesmo modesto, durou pouco. Entre março e maio, as cotações voltaram a recuar.

Os recuos mais expressivos aparecem no subgrupo aparelhos eletroeletrônicos, em queda de 6,61% nos 12 meses até maio. A queda mais forte é de televisores - 25% no período. Os automóveis novos, por sua vez, caíram 3,24%.

Além de ressaltar o papel do dólar barato nesse movimento, ao facilitar importações, Romão lembra que o Brasil é hoje uma das economias que mais crescem no mundo, num momento em que os países desenvolvidos ainda patinam. "Isso acirrou a competição das empresas para abocanhar espaço em mercados emergentes como o Brasil", afirma ele.

De janeiro a abril, o volume importado de bens duráveis aumentou 38,9% em relação ao mesmo período do ano passado, ritmo três vezes superior ao do avanço do total de importações, segundo dados da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex).

A economista Basiliki Litvac, da MCM Consultores, também vê o câmbio como um fator importante para explicar o comportamento benigno dos preços de duráveis. O real forte ajuda a contrabalançar o aumento dos preços dos bens importados pelo país. De janeiro a abril, as cotações dos bens duráveis comprados no exterior pelo Brasil subiram 7,2%, mas nesse período o dólar caiu 7,89%. A concorrência no setor de duráveis também tende a segurar o aumento de preços, acredita Basiliki.

No caso dos aparelhos eletroeletrônicos, a evolução tecnológica contribui para a queda das cotações, lembra Irene Maria Machado, gerente de pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Isso é fundamental para explicar o tombo de televisores e também de microcomputadores, cujos preços caíram 16,6% nos 12 meses até maio.

Romão considera ainda que a adoção das medidas macroprudenciais, que restringiram o crédito, colabora para que as empresas segurem reajustes. Para ele, fica complicado aumentar preços num momento em que as condições de financiamento de veículos, por exemplo, ficam mais difíceis.

O grupo comunicação continua a avançar em ritmo bem inferior ao do IPCA-15 "cheio", mas se acelerou nos últimos meses. Em 2010, fechou em alta de 0,68%. Nos 12 meses até maio, subiu 1,76%. A alta poderia ser maior se não fosse o item telefonia fixa, que avançou apenas 0,75% em 12 meses. A incorporação dos ganhos de produtividade ao índice que corrige as tarifas do setor contribui para que haja variações mais modestas dessas cotações, segundo analistas.

As tarifas de celular ganharam terreno. Depois da alta de 1,91% em 2010, subiram 4,43% nos 12 meses até maio. O item TV a cabo também registrou aceleração, avançando 5,54% nos 12 meses até maio - no ano passado, subiu 1,8%. A concorrência no setor conteve os reajustes nos últimos anos, ainda que os contratos já existentes costumem ser corrigidos pelo Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M). Para Romão, é possível que as operadoras tenham conseguido fidelizar uma parcela maior de clientes, o que os deixa mais propensos a aceitar tarifas maiores. Apesar dessa aceleração, o grupo comunicação deve ter alta pouco expressiva no ano. Romão projeta aumento de 2,36%, bem abaixo dos 6% que estima para o IPCA.