Título: Dilma decide nesta semana destino da Casa Civil
Autor: Basile, Juliano
Fonte: Valor Econômico, 07/06/2011, Política, p. A9

De Brasília

A decisão sobre a permanência do chefe da Casa Civil, ministro Antonio Palocci, no governo, será tomada nesta semana pela presidente Dilma Rousseff, que aguardava apenas manifestação do procurador-geral da República sobre o caso, mas já está decidido que não passará pelo crivo direto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Apesar de anunciada uma reunião entre o ex-presidente e Dilma para ontem, Lula "desistiu" da viagem a Brasília para participar pessoalmente das negociações, e informações de aliados da presidente Dilma revelavam que partiu dela a iniciativa de desestimular o encontro. A avaliação do Palácio do Planalto é que a interferência de Lula no governo causou um estrago irrecuperável na imagem da presidente. "Não pegaria bem ele vir novamente para discutir a situação de Palocci", afirmou uma fonte graduada do governo.

Palocci ganhou um pouco mais de fôlego, ontem, com a decisão do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, de não abrir investigação contra ele. "Como a Procuradoria não apresentou denúncia, Palocci pode alegar que não há como condená-lo politicamente com base em denúncias sem provas", disse um articulador político do governo.

Pessoas próximas ao chefe da Casa Civil lembram que a decisão do presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS) de cancelar a convocação de Palocci para depor na Comissão de Agricultura também poderá auxiliar o ministro.

Palocci teria se equilibrado no cargo no fim de semana, a partir da insatisfação generalizada com os nomes que vinham sendo citados para substituí-lo. A aposta mais forte atualmente é de que Dilma optaria por um perfil técnico para a Casa Civil, levando ao Planalto a atual ministra do Planejamento, Miriam Belchior. Ela tem a confiança da presidente, já foi da Pasta e, além disso, tiraria da Casa Civil o perfil político.

Como Dilma não pretende fazer grandes mudanças no ministério - alterações mais consistentes devem acontecer só em 2012, quando alguns ministros devem deixar os cargos para concorrer às eleições municipais - a tendência é que a presidente transfira Paulo Bernardo para o Planejamento, caso decida realmente levar Miriam para a Casa Civil. Nas Comunicações, uma saída, segundo informações de auxiliares da presidente, seria promover o atual secretário-executivo, César Alvarez, para o lugar de Bernardo, uma solução interna com alguém que já foi da Presidência, com Lula.

O PT preferia Paulo Bernardo a Miriam Belchior na Casa Civil. O primeiro tem militância partidária, já foi deputado e tem trânsito em praticamente todas as correntes. Miriam é vista como uma técnica competente, mas que galgou cargos importantes na máquina pública federal mais por sua proximidade com o ex-presidente Lula do que por méritos próprios.

Também estava descartada, ontem, a mudança de Pasta do secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho. Alguns petistas defendiam o nome dele para a coordenação política do governo. Mas ele não tem trânsito no Congresso e Dilma perderia um importante interlocutor com os movimentos sociais.

Outro que está com a situação indefinida é o ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio. Se Palocci ficar no governo e Luiz Sérgio na articulação, a presidente Dilma continuará politicamente enfraquecida. Se Palocci sair, ela poderá dar mais autonomia para o petista fluminense ou mesmo fazer uma mudança geral, fortalecendo a coordenação política. "O problema não é de nomes, mas de concepção de governo", disse um aliado. "Se Dilma seguir achando que a Presidência da República é um cargo meramente técnico, qualquer ministro da coordenação será fraco", comentou um político com trânsito no Planalto.