Título: Aliados pressionam por afastamento
Autor: Basile, Juliano
Fonte: Valor Econômico, 07/06/2011, Política, p. A9
De São Paulo e Brasília
Enquanto PT e PMDB monitoram a crise envolvendo o ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, para não perderem espaço no redesenho da coordenação política do governo, cresce, entre os partidos menores da base aliada da presidente Dilma Rousseff, a pressão para que o ministro deixe o governo.
Ontem, o presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, pediu o "imediato afastamento" do ministro. Presidente do diretório do PDT em São Paulo, Paulinho disse que não foram suficientes as explicações dadas por Palocci sobre o seu enriquecimento por meio da prestação de serviços de consultoria.
"O imediato afastamento do ministro só trará benefícios para o país, que vive um bom momento econômico, com pleno emprego e sinais de controle inflacionário, mas começa a sentir a paralisia política do governo devido às incertezas que cercam o atual ocupante da Casa Civil", disse Paulinho na nota divulgada pela Força Sindical. Secretário-adjunto nacional do PDT, Paulinho afirmou que Palocci "ainda deve explicações ao povo ".
Aliado ao governo federal, o PCdoB intensificou a pressão contra Palocci e pediu a rápida solução da crise aberta no Planalto. Em documento divulgado após reunião da cúpula partidária no fim de semana, o PCdoB "exige uma solução que fortaleça a autoridade da presidente Dilma na condução política do governo". "Esta resposta corresponde aos anseios da base aliada e da maioria da Nação", afirma o partido.
Por considerar insuficientes as explicações de Palocci, a senadora Ana Amélia (PP-RS) assinou ontem o requerimento da oposição pedindo a instalação de Comissão Parlamentar Mista de Inquérito para investigar o enriquecimento do ministro.
O PP integra a base de Dilma, mas a senadora apoiou a candidatura presidencial do tucano José Serra. Ana Amélia tem posição de independência desde que tomou posse e disse não acreditar em retaliações. "Estou com a consciência tranquila. Cumpri meu dever e a expectativa dos meus eleitores é essa", afirmou.
Para a senadora, não foram suficientes as explicações do ministro. "Acompanhei as entrevistas do ministro e elas não me foram convincentes. Ninguém paga valores tão grandes só pela conversa. Só se for para ter resultados."
A assinatura de Ana Amélia é a 20ª colhida pela oposição no Senado - ficam faltando sete na Casa. O senador Pedro Simon (PMDB-RS) comprometeu-se com a bancada a esperar a posição de Gurgel para assinar ou não. Na semana passada, ele defendeu, da tribuna, a saída do ministro. Do PMDB, assinaram Jarbas Vasconcelos (PE), dissidente, e Roberto Requião (PR), considerado independente. O apoio de Itamar Franco (PPS-MG) é dado como certo, mas ele está hospitalizado.
Do também aliado PR, o deputado Anthony Garotinho (PR-RJ) ameaçou duas vezes o governo. A primeira foi para fazer com que Dilma recuasse em relação ao chamado "kit gay". Na segunda Garotinho disse que se a PEC 300/08, que estabelece piso nacional aos policiais militares, não fosse votada, os deputados defensores da proposta apoiariam a convocação do ministro. O deputado do PR referiu-se a Palocci como "um diamante" de "R$ 20 milhões".
Para a criação da CPI Mista, é preciso haver 27 assinaturas no Senado e 171 na Câmara. O PSDB, o DEM e o PPS estão com dificuldades de conseguir apoios na Câmara, onde a maioria governista é expressiva.