Título: Chance de adesão do país ao Mercosul é nula
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 07/06/2011, Internacional, p. A11

De São Paulo

A quase certa vitória de Ollanta Humala nas eleições presidenciais no Peru é uma boa notícia para o governo da presidente Dilma Rousseff. Humala tende a convergir com a posição brasileira numa série de questões regionais. Uma, porém, está fora de cogitação: a adesão do Peru ao Mercosul.

Há uma década o Peru adotou uma política econômica de inspiração asiática, que prevê câmbio competitivo, baixa taxação e abertura da economia. Hoje, o país é um dos mais abertos ao comércio no mundo. Tem uma dezena de acordos de livre comércio, incluindo com os EUA, a União Europeia, o Japão e a China.

A estratégia é simples. O país não tinha uma indústria a proteger. Abrindo seu mercado, pode comprar o que precisa onde for mais barato. Os veículos do corredor de ônibus recém-inaugurado em Lima são chineses, mais baratos que os brasileiros.

Essa política barateia investimentos, o que, no médio e longo prazos, traz ganhos de produtividade para a economia. Muitos supermercados de Lima, por exemplo, são mais bem equipados que supermercados brasileiros.

Além disso, baratear o investimento estimula o desenvolvimento de setores não tradicionais, nos quais o país tem vantagens comparativas, fazendo surgir uma indústria competitiva. Esse processo já está ocorrendo, por exemplo, nos setores de alimentos e têxtil.

A tarifa média de importação do Peru é de só 2%, contra cerca de 14% do Mercosul. Entrar como membro pleno do Mercosul implica adotar a Tarifa Externa Comum do bloco. Isso significaria um reajuste forte nos preços finais de vários bens importados pelo Peru.

Apesar de Humala ter dito que poderia estudar a adesão ao Mercosul, nem a diplomacia brasileira espera que o Peru integre o bloco.

Segundo uma autoridade brasileira ouvida pelo Valor, para entrar no Mercosul o Peru precisaria renunciar à maioria de seus acordos de livre comércio. "Nesses acordos, o país se compromete a oferecer tarifas reduzidas ou zero."

Essa possibilidade é extremamente remota. Não teria o apoio do empresariado peruano e, possivelmente, nem o do consumidor.