Título: Queda rápida no IPC-Fipe e IGP-M não altera previsões para o IPCA
Autor: Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 10/06/2011, Brasil, p. A4
De São Paulo
O rápido recuo nas primeiras prévias do Índice de Preços Geral-Mercado (IGP-M) e do Índice de Preços ao Consumidor de São Paulo (IPC-Fipe) de junho foi concentrado nos preços de alimentos e transportes e nos produtos agropecuários, movimentos que já estavam na conta do mercado e sinalizam um período mais calmo para a inflação nos próximos meses, concordam analistas consultados pelo Valor.
O abrandamento dos preços, no entanto, não foi suficiente para alterar as previsões sobre o fechamento do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPCA), que deve encerrar 2011 dentro de um intervalo entre 6% e 6,6%, segundo os economistas ouvidos. O IGP-M começou junho com deflação de 0,09%, após alta de 0,7% no mesmo período de maio, enquanto o IPC-Fipe variou de 0,31% para 0,05% entre a última semana de maio e a primeira do mês atual.
O coordenador do IPC-Fipe, Antônio Comune, não esperava um índice tão baixo e revisou sua previsão do fim de junho de 0,27% para 0,08%, mas comenta que o arrefecimento da atual leitura é explicado somente pela deflação em alimentos e transportes, itens que tiveram queda mais acentuada do que o previsto, de 0,29% e 0,74%, respectivamente. Comune espera que o indicador encerre o ano em uma taxa entre 6% e 6,5%."As pessoas estão dando importância elevada ao impacto da queda das commodities sobre os IPCs. O meu ponto é que isso tem relevância, mas nossa fonte principal de inflação é em serviços, e ela não melhora com os preços agrícolas", explica Thiago Curado, da Tendências Consultoria, para quem o IPCA terminará 2011 em 6,6% - 0,01 ponto percentual acima do teto da meta.
Salomão Quadros, coordenador de Análises Econômicas da Fundação Getúlio Vargas, acredita que não há riscos de o IPCA estourar os 6,5%, mas concorda que a melhora atual na inflação não é permanente. "O que está acontecendo, embora seja bem vindo, pode ser uma coisa passageira. Assim que se encerrar o efeito do aumento da safra e ajustes de preço, podemos voltar a ver com mais nitidez as pressões da demanda".
A principal preocupação do economista também é o setor de serviços, que, segundo o IPC da FGV, está na casa de 7,5% no acumulado em 12 meses. Segundo Quadros, os atuais sinais de desaceleração na economia ainda podem estar ameaçados pelo aumento do salário mínimo e perspectivas de fortes reajustes salariais no segundo semestre.
Por ora, o cenário é positivo, sustenta Quadros, que ressalta a queda disseminada em todos os estágios do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), com deflação de 0,57% nas matérias-primas brutas, 0,52% em bens intermediários e 0,5% em bens finais.
"Os três estágios de processamento estão com variações negativas bem próximas. Você pode ter uma variação negativa por conta de um produto final, o que se esgota em pouco tempo, mas como agora estamos com queda em todos os estágios, essa desaceleração e talvez a própria deflação tenha um certo fôlego devido ao processo de transmissão na cadeia produtiva", afirma.
Para Curado, da Tendências, a pífia aceleração de 0,01% no Índice Geral de Preços Disponibilidade Interna (IGP-DI) corrobora que todos os IGPs de junho terão deflação, fechando o mês em -0,15%.