Título: Preço de combustível só devolveu parte da alta
Autor: Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 10/06/2011, Brasil, p. A4
Do Rio Os preços do etanol contribuíram muito para o recuo da inflação entre abril e maio, quando o IPCA baixou de 0,77% para 0,47%. O combustível ficou 11% mais barato naquele mês. O preço da gasolina não caiu, mas subiu bem menos que nos meses anteriores. Ainda assim, um levantamento feito com base na pesquisa semanal da Agência Nacional do Petróleo (ANP) mostra que, apesar de a gasolina não sofrer nenhuma alteração de preço nas refinarias desde 2009 e de a produção de etanol estar em plena safra, os dois combustíveis estão, respectivamente, 9,6% e 24% mais caros no país em relação à primeira semana de junho de 2010. "Com certeza absoluta eu digo que as usinas estabeleceram um novo patamar para o preço do etanol", afirma Paulo Miranda Soares, presidente da Federação Nacional dos Revendedores de Combustíveis (Fecombustíveis). Os números da ANP mostram que o preço do litro de etanol hidratado (o que abastece os veículos sem mistura) estava em R$ 1,934 na média nacional na primeira semana de junho. No mesmo período do ano passado o preço era de R$ 1,560, o que dá uma diferença de 24%. Nos dois maiores mercados do país, São Paulo e Rio de Janeiro, o último levantamento mostrou que o preço do etanol está, respectivamente, 29,7% e 28,4% mais alto em relação ao mesmo período do ano passado.Já o preço médio da gasolina, influenciado pela mistura de 25% de etanol anidro que compõe o combustível, estava em R$ 2,789 por litro neste começo de junho (alta de 9,6% sobre 2010). No Rio e em São Paulo os preços apurados na primeira pesquisa deste mês da ANP estavam, respectivamente, 10,5% e 12,8% mais altos do que no começo de junho de 2010. De acordo com o presidente da Fecombustíveis, o preço do anidro está 29% mais caro e por conta disto a gasolina está chegando das distribuidoras 11% mais cara do que no ano passado para os postos. Soares afirmou que os revendedores estão até assimilando uma pequena perda de margem, repassando na bomba um aumento próximo a 10% para o consumidor. "O mercado produtor tem afirmado em audiências públicas que a demanda está maior do que eles podem produzir", resume.
Segundo o presidente da federação dos postos, o preço do etanol hidratado na usina chegou a R$ 0,98 no final de maio, mas voltou a subir com o crescimento da demanda, na medida que a diferença para o preço da gasolina chegou ao nível de 30%, a partir de quando é considerado vantajoso para o consumidor abastecer os carros flex com etanol.
Segundo Alisio Vaz, presidente do Sindicom, o sindicato nacional das distribuidoras, o preço do etanol hidratado está próximo a R$ 1,05 na origem. No começo de junho de 2010, segundo ele, o produto estava custando para as distribuidoras R$ 0,70 por litro, enquanto o anidro estava em cerca de R$ 0,80 (hoje está próximo a R$ 1,15, segundo o executivo).
De acordo com o presidente do Sindicom, o entendimento geral é que a mudança de patamar de preços dos combustíveis decorre do fato de que a safra de etanol deste ano não ter crescido substancialmente sobre a do ano passado, enquanto a frota de veículos cresceu em cerca de 3 milhões de unidades.
Para Vaz, a principal causa de estar havendo um crescimento da demanda maior do que o da oferta é a falta de investimentos na produção e moagem de cana-de-açúcar desde 2008, embora avalie que o deslocamento de matéria-prima da produção de etanol para a fabricação de açúcar tenha uma participação pequena no comportamento dos preços.
Soares, da Fecombustíveis, disse temer que a crise seja mais forte na próxima entressafra do etanol e defendeu que a legislação seja alterada para permitir a redução da mistura de anidro à gasolina para até 10%. Hoje a mistura é de 25%, podendo cair para 20%. O Valor procurou a União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Única), mas até o fechamento desta edição a assessoria de imprensa da entidade não havia respondido ao pedido de entrevista feito pelo jornal.