Título: PT e PMDB fecham acordo para levar Vaccarezza à Pasta de Luiz Sérgio
Autor: Ulhôa, Raquel ; Junqueira, Caio
Fonte: Valor Econômico, 10/06/2011, Política, p. A6

De Brasília

A presidente Dilma Rousseff deve concluir hoje as mudanças na articulação política do governo com a provável substituição do ministro Luiz Sérgio (Relações Institucionais). O ministro, que hoje se reúne com a presidente, já avisou o PT que não quer permanecer no cargo - sente-se humilhado e desprestigiado. Dilma preferiria continuar com ele até pelo menos conseguir a pacificação da conflagrada bancada do PT na Câmara dos Deputados. A decisão sai em audiência prevista para a manhã de hoje.A presidente deu um ultimato ao PT: ou os deputados se entendiam ou ela nomearia para o cargo a ministra Ideli Salvatti (Pesca), que foi líder do governo Lula no Senado. O PMDB avisou que apoia tanto o nome de Ideli como o deputado Cândido Vaccarezza (SP), opção do grupo majoritário petista na Câmara. O maior partido aliado de Dilma espera é que a presidente efetivamente mude de postura política e libere os cargos e as verbas prometidas aos congressistas.

O risco da mudança é agravar ao invés de melhorar a situação do governo no Senado. A simples menção ao nome de Ideli levou as bancadas do PT na Câmara e no Senado a trabalhar intensamente para impedir a nomeação da ex-senadora. Na tentativa de manter o cargo com a bancada petista na Câmara, os grupos do presidente da Casa, Marco Maia, e do líder do governo, Cândido Vaccarezza, fizeram um acordo em torno de nomes, com aval do PT do Senado, para o qual pediram apoio do PMDB.

Dilma, no entanto, emitiu sinais de não ter gostado de ver o PT discutindo nomes como se o cargo fosse do partido - e não dela.

Ao mesmo tempo, o ministro Luiz Sérgio manifestou desconforto com o desgaste ao qual estava sendo submetido e, sentindo-se humilhado, avisou que não ficaria mais no cargo. Os petistas chegaram a admitir a possibilidade de uma substituição interna, temporária, até a construção de uma solução definitiva.

Pelo acordo da bancada petista, dois nomes seriam levados à presidente: os de Vaccarezza e do deputado Pepe Vargas, integrante da Democracia Socialista (DS), uma tendência minoritária do PT e que tem funcionado como espécie de fiel da balança no embate entre os dois grupos do PT paulista.

A ideia era apresentar à presidente apenas os nomes que resultaram do acordo, sem indicação para cargos. Mas Vaccarezza conseguiu apoio do PMDB para sua ida para a SRI, o que levaria Pepe Vargas para a liderança do governo. O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), participou das negociações - inclusive nas conversas com o PMDB e com o Palácio do Planalto.

Segundo dirigentes do PT, Vaccarezza na SRI e Vargas na liderança "agradaria a gregos e troianos, mas parece que essa solução não passa pela cabeça da presidente".

A cúpula do PMDB e o vice-presidente Michel Temer, presidente licenciado do partido, atuaram em duas frentes. Uma para intensificar a cobrança por maior protagonismo na articulação política do governo e outra nas negociações com o PT em busca de uma solução para a SRI.

De olho no aval de Vaccarezza em 2012 para um pemedebista suceder Marco Maia na presidência da Câmara, o PMDB deu apoio a ele. Vaccarezza teve várias conversas com o líder do PMDB do Senado, Renan Calheiros (AL), e outros senadores do partido.

No entanto, a escolha de Ideli encontrava menos rejeição no PMDB do que no PT. Ex-senadora, Ideli apoiou a eleição do presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), e manteve bom relacionamento com o partido durante seu mandato.

O senador Walter Pinheiro (PT-BA) disse não acreditar em rebelião do partido, caso Ideli seja indicada. "A escolha que Dilma fizer, todo mundo vai tentar encaixar e contribuir."

A oposição, por sua vez, comemorava o que considerava ser um "desastre" para o governo a possibilidade de Ideli ser indicada para a SRI, por seu estilo "trator" de atuar. Os petistas também previam reação dos aliados na Câmara, já que seriam duas mulheres oriundas do Senado no núcleo do governo.

Até ontem à tarde, Dilma não tinha conversado com Temer sobre a situação da SRI. Na escolha de Gleisi Hoffmann para a Casa Civil, o vice-presidente foi informado meia hora antes do anúncio oficial, o que irritou os pemedebistas. Renan voltou a afirmar ontem que os problemas do governo "não são gerenciais, mas políticos" e que a presidente "está empenhada" em resolvê-los. O PMDB cobra solução para uma relação de cerca de 40 pleitos para indicação (ou manutenção dos atuais ocupantes) de cargos do segundo e terceiro escalões.

"O PMDB nunca teve preocupação com essa coisa de nome. O PMDB quer mudança no desenho, quer participar mais da formulação. Mas não é um desejo só do PMDB. Todos os partidos da sustentação querem isso. E a presidente está empenhada. Ela tem elencado gestos no sentido de resolver esses problemas. Essa é a grande lição que nós temos que tirar com a crise", disse.

Segundo o líder, é preciso criar um modelo de articulação política que "melhore os canais de conversação com o Congresso, com o PMDB, claro, que é um partido estratégico, o maior da sustentação, mas também com os outros partidos da base, que igualmente vivem os mesmos problemas".

Segundo dirigentes do PMDB, o partido não quer um pemedebista na coordenação política do governo, porque não adianta ter uma pessoa sem interlocução com a presidente e sem autoridade no governo para atender às demandas partidárias. Tem que ser alguém que seja ouvido internamente e tenha autoridade para resolver os pleitos.

O PMDB está na expectativa de que os cargos pleiteados pelo partido comecem a ser preenchidos assim que o novo ministro for nomeado, porque ele precisará demonstrar aos aliados que tem poder.

A reunião dos grupos de Maia e Vaccarezza se estendeu por mais de três horas. "Fizemos uma reunião para verificar se havia entre nós alguma diferença ou divergência e concluímos que não as temos. Nossa intenção é acabar com essa conversa e impressão de que há disputa entre deputado A e deputado B", afirmou Marco Maia. O líder da bancada na Câmara, Paulo Teixeira (SP), seguiu a mesma linha. "Não há clima de conflito. Há situações vindas de conflitos anteriores que precisam ser dadas um ponto final". Todos negaram qualquer veto a Ideli: "Não temos nenhum problema com Ideli", garantiu Marco Maia. (Colaborou Paulo de Tarso Lyra)