Título: Defesa do governo no mensalão aproximou Ideli de Dilma
Autor: Grabois, Ana Paula ; Cunto, Raphael Di
Fonte: Valor Econômico, 13/06/2011, Política, p. A8

De São Paulo e de Florianópolis

Defensora ferrenha do governo em episódios de crise, como o mensalão, os atos secretos do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e a CPI da Petrobras, a nova ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, chegou a ser taxada de "pitbull" por colegas de Senado, onde foi dona de mandato até o ano passado.Sua relação com a presidente Dilma Rousseff estreitou-se justamente depois da crise do mensalão, em 2006, quando a atual presidente deixou o Ministério de Minas e Energia para ocupar a Casa Civil, em substituição a José Dirceu. Na época, Ideli era a líder da bancada do PT no Senado. "A Ideli ajudou muito o governo no Senado", afirma o prefeito de Joinville (SC), Carlito Merss (PT), que a conhece desde os tempos em que militavam juntos no sindicalismo de professores do ensino público de Santa Catarina nos anos 80.

Ideli voltou a ser líder do PT na Casa em 2004, 2006, 2007 e 2008. Foi elevada à liderança do governo no Congresso Nacional em 2009, quando defendeu a permanência de Sarney na presidência do Senado em meio às denúncias de nomeação de parentes e de funcionários-fantasma. "É uma mulher guerreira, aguerrida e muito leal aos aliados e aos adversários. É duro fazer acordo com ela, mas ela faz e cumpre", comenta o prefeito petista.

Derrotada na disputa pelo governo de Santa Catarina em 2010, ganhou o Ministério da Pesca por indicação de Dilma até ser alçada na sexta-feira à Pasta das Relações Institucionais. "Eu só não sei onde as mulheres vão parar. Com Dilma estão a Miriam Belchior [Planejamento], a Gleisi Hoffmann [Casa Civil] e agora a Ideli", brinca Merss.

Paulista, Ideli tem 59 anos, é formada em Física pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e casada pela segunda vez. Tem dois filhos do primeiro casamento. Fundadora da CUT e do PT de Santa Catarina, começou na política nas comunidades eclesiais de base e no sindicalismo.

O senador Casildo Maldaner (PMDB-SC) lembra da ministra quando ele foi governador de Santa Catarina em 1991 e teve que enfrentar uma greve liderada pelo sindicato presidido por Ideli. "Ela era uma líder radical nos movimentos de greve, sempre foi muito dura na defesa dos professores. Mas ela era jovem, depois ainda passou pela Assembleia e ganhou mais experiência, ficou mais calma", comenta.

Ideli elegeu-se deputada estadual em 1994 e foi reeleita em 1998. Quatro anos depois, conseguiu uma das duas vagas ao Senado de seu Estado depois de participar de disputa acirrada com outros cinco candidatos.

Afrânio Boppré, hoje presidente do PSOL catarinense, foi líder do PT na assembleia e revezava a função com a então colega de legenda. "Ela teve um passado de sindicalista, de deputada na luta, depois degenerou-se", avalia Boppré, que, em 2005, migrou para o PSOL. "Ela se afastou dos movimentos sociais e fez questão de ter um empresário como vice na campanha estadual. Vai cumprir uma função de articuladora pela direita que serve bem para um governo conservador", dispara.

Na campanha pelo governo de Santa Catarina, Ideli ficou em terceiro lugar em chapa fechada com o PR, com apenas 21,7% dos votos. A ministra sofreu com a ausência de alianças de peso. O vencedor, Raimundo Colombo, de malas prontas para o PSD do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, fechara acordo com PMDB, PSDB, PPS, PTB e outros quatro partidos menores. A executiva nacional do PMDB pressionou a direção estadual, com ameaça de intervenção, mas não conseguiu convencer o partido a apoiar a candidata petista.

Ideli ainda teve que enfrentar a ida do PDT para a chapa encabeçada pela então concorrente Angela Amin (PP), que terminou em segundo lugar na corrida estadual. A ministra culpou o Ibope pela derrota.

Em 2009, um contrato de prestação de serviço da Eletrosul com a Newfield Consulting colocou a então senadora como alvo de denúncia. A estatal, presidida pelo ex-marido de Ideli, Eurides Mescolotto, contratara empresa. O detalhe era que o filho e a nora de Ideli e Eurides, Filipe Salvatti Mescolotto e Maria Solange Fonseca, trabalhavam para a Newfield. Ideli declarou na época que o esclarecimento cabia à Eletrosul. A mesma empresa teria recebido do gabinete da então senadora R$ 70 mil para um curso de gestão no exterior. Ela devolveu parte dos recursos.