Título: Votação da MP 527 testa atuação das novas ministras
Autor: Zanatta, Mauro
Fonte: Valor Econômico, 13/06/2011, Política, p. A9

De Brasília

O primeiro teste dos novos ministros do Palácio do Planalto tem data marcada: nesta quarta-feira, na Câmara dos Deputados, com a votação da Medida Provisória 527. O texto contém dois temas para os quais a presidente Dilma Rousseff pediu atenção: novas regras para a aviação civil no país e a flexibilização na Lei de Licitações para agilizar as obras da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016.

Para tentar obter o primeiro sucesso sem maiores sobressaltos, a nova ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, que toma posse hoje, passou o fim de semana em contato com as principais lideranças da Câmara, já sinalizando uma possível alteração na forma de operar a articulação política do governo.

Seu antecessor, Luiz Sérgio, restringia seu contato político direto na Casa apenas ao líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP). Ideli, neste início de gestão e com vistas a uma votação em que a oposição promete obstruir, ampliou essa coordenação, informalmente. Ao longo de sábado e domingo falou com deputados não só do PT, mas também de outros partidos, para os quais pediu apoio sob a promessa de trabalhar juntos.

Com isso, leva ao Palácio do Planalto um estilo congressual de conduzir as negociações, por meio do qual vários atores políticos participam do processo de convencimento dos parlamentares para que embarquem nos projetos do governo.

A estratégia tem por objetivo solucionar um dos principais problemas herdados pelo governo da crise envolvendo o ex-ministro Antonio Palocci: o acirramento da disputa interna na bancada petista da Câmara. Ao ampliar os canais de interlocução no Legislativo, Ideli quer mostrar aos deputados - tal qual pensa a presidente - que o partido deve estar unido, fechado com ela e longe da guerra fratricida que tomou conta da bancada nas últimas semanas.

Nesse sentido, o diálogo evidentemente passará por Vaccarezza e o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), dois dos protagonistas dos embates internos. Mas também alcançará outros nomes, seja qual for o seu grupo petista ou Estado de origem.

Isso porque a avaliação é que a crise interna provém principalmente de São Paulo, que perdeu seu principal ministro - Palocci - e viu abrir um espaço a ser ocupado. Iniciaram-se, então, as articulações de quem substituiria tanto o ministro da Casa Civil como o das Relações Institucionais. Dilma percebeu isso e, solitária, escolheu as ministras que os substituíram.

"Espera-se que essa crise toda tenha um efeito pedagógico muito grande sobre muita gente", afirma o vice-presidente do PT e vice-líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), para quem se inicia um novo momento na relação entre Executivo e Legislativo. "Ela [Ideli] está ampliando a interlocução com o Congresso. É uma mudança grande e a expectativa com isso é bem positiva."

No entanto, o novo desenho da condução da articulação política não ficará restrito a Ideli. Enquanto a ministra concentrará suas forças nesta semana na Câmara, quem tomará as rédeas do Senado é a própria presidente. Estão previstos encontros, separadamente, com os cinco senadores do PP e os quatro do PR. A Casa preocupa a presidente por vários motivos: porque ali tramita o projeto do Código Florestal, que deu à presidente sua primeira derrota na Câmara; além disso, observa-se o crescente fortalecimento de integrantes do PMDB. A presidente quer evitar que seu vice, Michel Temer, e seus aliados no Congresso vejam na recente substituição de nomes uma brecha para aumentar seu poder no Legislativo e, consequentemente, o cacife político da legenda.