Título: Disputa doméstica desafia Ideli
Autor: Zanatta, Mauro
Fonte: Valor Econômico, 13/06/2011, Política, p. A9

De Brasília Antes mesmo de enfrentar as espinhosas negociações políticas com partidos aliados do governo no Congresso, a nova ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, que toma posse hoje às 16 h, terá que resolver um problema criado pelas disputas internas do PT de Santa Catarina em seu ministério. Ao herdar a enxuta estrutura da secretaria, a ex-senadora terá como secretário-executivo o ex-deputado federal Cláudio Vignatti, um dos seus principais adversários no PT estadual. Em 2010, Ideli e Vignatti disputaram, e perderam, as eleições catarinenses em clima de divergências e acusações mútuas. Terceira colocada na corrida pelo governo estadual, Ideli teve menos votos do que Vignatti, candidato derrotado ao Senado em sua chapa - 754,2 mil votos dela ante 1,22 milhão de votos dele.

Em grupo opostos, ambos trocaram farpas durante a campanha. Cada um tinha seu próprio programa e agenda eleitoral. Ex-líder sindical em Chapecó, Vignatti foi acusado de boicotar Ideli na região e de trabalhar nos bastidores por uma aproximação com o PMDB. A meta era ficar como segundo opção ao Senado e atrair eleitores do ex-governador Luiz Henrique da Silveira, eleito pelo PMDB. Nem as visitas da então candidata Dilma Rousseff e a mediação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva resolveram os problemas.

Passada a acirrada disputa interna da campanha, os dois adversários reproduziram as divergências em Brasília. Vignatti tentou ocupar o Ministério da Pesca com o respaldo de seu padrinho, o atual presidente do PT-SC, José Fritsch. Amigo do ex-presidente Lula, Fritsch ocupou o cargo entre 2003 e 2006. Ideli ganhou a Pesca, mas permaneceu a briga de ambos pelos cargos federais no Estado. A última refrega foi a tentativa de Vignatti de emplacar, contra a vontade de Ideli, o ex-ministro da Pesca Altemir Gregolin no comando estadual do Dnit. Gregolin também era do grupo de Fritsch.

A nova ministra terá que resolver a pendência com o adversário, considerado um político habilidoso e potencial candidato ao governo catarinense, em 2014. No Congresso, Vignatti, o sub, foi apontado como um interlocutor mais ativo do que o então ministro Luiz Sérgio nas negociações para votação do Código Florestal pela Câmara. Com a nomeação de Ideli para a nova função, Vignatti esperava finalmente ser guindado ao Ministério da Pesca. Nas rodas petistas, falava-se até mesmo de sua articulação interna para assumir as Relações Institucionais. No fim, a presidente Dilma acabou promovendo uma simples troca de funções entre Luiz Sérgio e Ideli.

A presidente Dilma já tratou do caso de Vignatti com Ideli, apurou o Valor. E pediu uma trégua na disputa doméstica. Mas a convivência de ambos é tida como "impossível" por parlamentares catarinenses e integrantes do governo.

A presidente Dilma também terá que resolver outra questão derivada da prematura troca de ministros forçada pela queda de Antonio Palocci. A nova Casa Civil, agora comandada pela senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), ficou esvaziada das principais vitrines do governo, como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o habitacional Minha Casa, Minha Vida. Como foi moldada para o figurino político de Palocci, a Casa Civil perdeu várias atribuições de gerenciamento e gestão. Com Gleisi Hoffmann, a Casa Civil deve voltar a atuar preferencialmente na gestão e no gerenciamento de áreas estratégicas para o governo. Criado para erradicar a extrema pobreza em que vivem 16 milhões de brasileiros, o programa Brasil sem Miséria deve continuar sob a coordenação da ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello. As obras para a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016, espalhadas em vários ministérios, podem ter em Gleisi uma coordenadora-geral no Palácio do Planalto.