Título: Humala será pragmático, diz marqueteiro
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 13/06/2011, Internacional, p. A12

De Brasília

As empresas com interesses no Peru podem contar com uma ação pragmática do presidente eleito, Ollanta Humala, mas terão de dar maior atenção às queixas e reivindicações das comunidades afetadas pelos projetos de investimento no país para manterem alguns projetos de investimento, acredita um dos principais assessores de marketing da campanha do candidato vitorioso, o argentino naturalizado francês Luis Favre.

Para Favre, de estreitas ligações com o PT, a esquerda latino-americana dividiu-se em duas correntes: uma, "herdeira da Guerra Fria", limitada por circunstâncias locais de forte polarização política, seria a representada por Hugo Chávez, na Venezuela, Evo Morales, na Bolívia, e outros países da aliança bolivariana dos povos das Américas (Alba); a outra, mais bem-sucedida na combinação de políticas de mercado e distribuição de renda, teria como maiores expressões Luiz Inácio Lula da Silva, no Brasil, José Mujica, no Uruguai, Maurício Funes, em El Salvador e Michele Bachelet, no Chile.

Humala optou por essa segunda corrente antes mesmo da campanha, garante Favre, que ressalva não falar pela equipe do presidente eleito. O marqueteiro, associado a outro petista, Valdemir Garreta, da FX Comunicação, e com outros dois brasileiros, Arthur Muhlenberg e Lucas Peixoto, entrou na campanha de Humala em janeiro, quando as pesquisas apontavam o hoje presidente em quinto lugar na preferência dos peruanos.

O próprio Humala tem contado, em entrevistas, que, após avaliar as razões da derrota em sua última tentativa eleitoral, em 2006, procurou o escritor Mario Vargas Llosa, um liberal contrário a sua candidatura, para fazer uma autocrítica, e renegou o maniqueísmo que orientava sua atuação política. Ele reconheceu que havia sido um erro deixar que Hugo Chávez interferisse pesadamente na campanha. Humala afastou-se de Chávez e passou a buscar a referência do governo Lula, bem-sucedido nos programas de distribuição de renda, com crescimento econômico.

O primeiro telefone recebido por Humala após as eleições foi o do conservador Sebástian Piñera, presidente do Chile, lembra Favre. O peruano afirma que não interferirá nas negociações territoriais entre o Chile e a Bolívia de Evo Morales. As alianças regionais não serão movidas por ideologia e sim pragmáticas, garante o marqueteiro do presidente eleito.

Favre garante, com base na experiência de campanha, que Humala tentará contornar com negociação os problemas com o setor privado, como a resistência de comunidades locais a investimentos de infraestrutura acusados de ameaça ao meio ambiente (é o caso da hidrelétrica de Inambari, na região de Puno, a ser construída por Eletrobrás, Furnas e OAS). Sem solução que satisfaça às comunidades, temerosas de danos às escassas fontes de água no país, os projetos podem ser revistos, prevê. "Humala sempre destaca que o investimento é bem-vindo, mas tem de interagir com a população afetada por eles", diz Favre.

Uma certeza com a vitória de Humala é a consolidação das boas perspectivas para empresas brasileiras no negócio do marketing político. Favre contabiliza convites para campanhas no México, Equador, Guatemala e a disputa municipal no Brasil. Ele trabalhou em 2010 nas campanhas de Dilma Rousseff e de Aloysio Mercadante. Antes, fez as campanhas de Marta Suplicy e de Lula (em 2002), e, com Duda Mendonça, para o governador de Córdoba, na Argentina, José Manuel de la Sota.

O marketing brasileiro levou maior objetividade e mais técnica à campanha peruana, acredita Favre. Houve seleção de "propostas claras e com marcas", diz Favre. Humala foi encorajado a anunciar publicamente que mudara, estaria mais aberto ao diálogo com outras forças políticas; foi constatado nas pesquisas que a honestidade era uma de suas marcas, e ela foi explorada, com ênfase na sua determinação em cumprir a palavra.

Foram criadas peças específicas para divulgar os programas sociais que respondiam às expectativas de que estaria comprometido com os interesses dos mais pobres. "Os outros candidatos não mostraram propostas com tanta clareza", desdenha o marqueteiro.