Título: Palocci explica-se a senadores do PT em almoço ao lado de Dilma
Autor: Junqueira, Caio
Fonte: Valor Econômico, 27/05/2011, Política, p. A8
De Brasília
O ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, afirmou ontem, em encontro com senadores, que sua empresa de consultoria assessorou a fusão de empresas, recomendou investimentos e organizou palestras em que ele era o protagonista sem nunca, contudo, ter trabalhado para pessoas jurídicas com ligação direta com o governo. Será nesse sentido a defesa que apresentará em suas respostas às questões enviadas pelo procurador-geral da República.As declarações foram feitas, ontem, durante almoço da bancada do PT do Senado, com as presenças da presidente Dilma Rousseff e dos ministros Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral) e Luiz Sérgio (Relações Institucionais). Palocci tomou a palavra por cerca de 15 minutos e discorreu sobre as acusações contra ele.
Segundo um senador que esteve no almoço, o ministro disse que uma das recomendações feitas foi de que seus clientes evitassem investimentos especulativos em derivativos, uma vez que o risco de endividamento era muito grande ao se considerar a crise financeira por que o mundo passava à época.
Palocci disse que algumas empresas que fizeram esses investimentos acabaram por fechar as portas e que seus clientes ficaram "muito gratos" pelos seus aconselhamentos. Alegou, porém, que, em respeito às cláusulas de confidencialidade determinada nos contratos que assinou, não poderia revelar quais foram seus clientes.
Traçou um histórico de sua empresa, disse que era bem pago e que tudo estava declarado à Receita Federal. Garantiu, assim, que seu trabalho "atentou aos princípios normais da ética" e que tudo foi explicado ao presidente da Comissão de Ética Pública da Presidência, Sepúlveda Pertence, quando entrou no governo Dilma. Alguns senadores saíram convictos de que ele em breve dará uma entrevista sobre as acusações.
O encontro ocorreu no dia seguinte à reunião que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve com senadores petistas. Ali, houve muita reclamação contra o governo e a falta de atendimento de parlamentares da base, tanto do PT quanto de aliados. Dilma anotou o recado e marcou o almoço. Falou a maior parte do tempo sobre a necessidade dos senadores em alterar o texto do Código Florestal aprovado na Câmara. Foi ao final que Palocci pediu a palavra e deu as explicações.
Após o evento, os senadores evitaram dar detalhes do teor da defesa do ministro. Disseram apenas que seus argumentos eram "muito consistentes". "A mim, como aos demais senadores que lá estiveram, as explicações nos pareceram bastante consistentes. Como há um movimento feito pela oposição que é a representação à Procuradoria-Geral da República, vamos esperar essa resposta para ver se é convincente ou não. Para o que foi dito a nós aqui hoje, é bastante convincente", disse o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE).
A defesa está praticamente pronta, apesar de Palocci não ter encaminhado o documento à Procuradoria-Geral da República ontem, o que deve acontecer em breve - o prazo dado pelo procurador Roberto Gurgel vence na semana que vem - até para atender à presidente Dilma, que espera que o caso seja encerrado após as respostas do ministro.
Está certo, no entanto, que apesar de responder às solicitações, Palocci manterá a disposição de não expor o nome dos clientes. "O nome de apenas uma empresa veio a público e olha o que aconteceu", disse o ministro a aliados, em uma referência às acusações de que a W Torre teria sido favorecida em um processo de devolução do Imposto de Renda. Existe também a preocupação com o Santander, que, com a simples menção de seu nome como cliente da Projeto, virou "banco parceiro do governo". (Colaborou Paulo de Tarso Lyra)