Título: Francesa vem pedir voto do Brasil
Autor: Hollinger, Peggy
Fonte: Valor Econômico, 27/05/2011, Internacional, p. A10

De Brasília

Christine Lagarde vem ao Brasil nesta segunda-feira para buscar apoio como candidata ao cargo de diretor-gerente do FMI. As autoridades brasileiras têm encontrado dificuldade em apontar um nome alternativo, embora defendam que o substituto de Dominique Strauss-Kahn não possa ser escolhido com base em critérios geográficos, mas de competência. Nem os nomes oferecidos pelo México nem o da África do Sul despertaram entusiasmo em Brasília.

Segundo uma autoridade que acompanha as negociações, o governo brasileiro pretende criar "constrangimento moral e político" ao candidato que vier de um processo fechado de seleção, para marcar posição em favor da mudança na escolha dos dirigentes do FMI. Após reunir-se com a ministra de Relações Exteriores da Espanha, Trinidad Jiménez, ontem, o ministro de Relações Exteriores, Antônio Patriota, repetiu a reivindicação feita pelos Brics de maior transparência e critérios técnicos para escolha do futuro dirigente do FMI.

"Estamos engajados na busca de consenso que prepare o FMI para desempenhar, de maneira mais equilibrada, mais sintonizada com os desafios contemporâneos, seu papel", disse Patriota. Na nota dos Brics, a insistência em um nome europeu para o posto mais alto no Fundo é criticada por "solapar a legitimidade do FMI".

O governo brasileiro considera praticamente impossível evitar que o candidato eleito seja aquele escolhido pelos Estados Unidos com a Europa e aliados tradicionais, como Canadá e Japão. Isso deixa Lagarde como a virtual próxima diretora-gerente do FMI. A saída de Strauss-Kahn, por denúncias de abuso sexual em um hotel, nos Estados Unidos, é lamentada até hoje pelo governo brasileiro, que teve no socialista francês como um aliado no esforço de aumentar o peso dos países emergentes. Na conversa com Lagarde, as autoridades brasileiras devem cobrar o compromisso de seguir a linha adotada pelo antecessor.

Oficiosamente, membros do governo brasileiro consideram que não surgiram candidatos de países emergentes com as condições de currículo robusto e independência, até agora. São vistos sem entusiasmo os nomes do presidente do Banco Central mexicano, Agustin Carstens, que também virá ao Brasil na próxima semana, e do atual ministro da Comissão de Planejamento da África do Sul, Trevor Manuel, outro nome de país emergente cogitado nos últimos dias.