Título: Sarkozy diz que Europa já fez concessões a emergentes
Autor: Hollinger, Peggy
Fonte: Valor Econômico, 27/05/2011, Internacional, p. A10

De Deauville

O presidente da França, Nicolas Sarkozy, argumentou ontem que a Europa já fez concessões para os emergentes no Fundo Monetário Internacional (FMI), ao reagir a contestações de vários países à possibilidade de mais um europeu dirigir a entidade.

"Você sabe o valor que a França atribui à relação com o Brasil e o combate que a França trava para o Brasil fazer parte do Conselho de Segurança das Nações Unidas e ter lugar na governança global", argumentou Sarkozy em entrevista coletiva ontem, depois de oito horas de reuniões com os outros líderes do G-8 em Deauville, o balneário chique a duas horas de Paris.

"Tratando-se da direção do FMI, as novidades econômicas estão mais do lado da Europa que dos emergentes. Nem sempre foi assim", disse. "Acreditamos que o próximo diretor-geral do FMI deve ser um europeu. Agora, nós militamos pelas modificações dos direitos de voto no FMI. E quem obteve isso, em especial para a China? Foi sacrifício de quem? Em especial dos europeus. Creio que foram 5% tomados da Europa em favor dos emergentes. E foi justo."

Sarkozy acena com barganha para outros cargos e contraria também o discurso de sua candidata, Christine Lagarde, de que nacionalidade não deve ter nada a ver com a escolha: "É certo que, ao final do processo, se forem acontecer outras nomeações no FMI, será necessário levar em consideração a nacionalidade de origem do novo diretor-geral. É evidente. O multiculturalismo deve se aplicar ao FMI, como em todas as outras organizações internacionais".

A avaliação mais forte nos círculos diplomáticos é de que a China fez barganha com a França para apoiar Lagarde e tentar indicar o número dois do fundo. Segundo o presidente, em encontros bilaterais com outros líderes do G-8, ontem, "todo mundo pensa que Christine Lagarde é uma mulher de qualidade e seria uma boa diretora geral do FMI".

Ontem, os EUA emitiram o mais claro sinal até agora de que apoiam a francesa. "Damos as boas vindas a mulheres que são bem qualificadas e experientes para chefiar organizações importantes como o FMI", disse a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton.

Ao mesmo tempo em que defendeu sua candidata, Sarkozy acabou cobrando concessões de Brasil, China, Índia e outros grandes emergentes nas negociações sobre mudança climática e de liberalização do comércio mundial, que continuam bloqueadas.

"A dificuldade [dessas negociações] vem do fato de tentarmos resolver problemas do século 21 com organização do século 20", disse, notando que não há mais dois únicos blocos, de ricos e pobres. "A China passou o Japão como segunda maior economia do mundo. Não podemos impor à Índia e à China as mesmas regras que nos são impostas. Mas é normal não impor nenhuma regra? Temos de fazer a mesma coisa [para os países em desenvolvimento] com países como o Brasil e China?"

Com ruidosas rajadas de vento em Deauville, Sarkozy encerrou a entrevista desejando que hoje "o vento esteja mais calmo".