Título: Lagarde acena com mudanças no FMI
Autor: Hollinger, Peggy
Fonte: Valor Econômico, 27/05/2011, Internacional, p. A10

Financial Times, em Paris

Christine Lagarde, favorita na disputa pelo comando do Fundo Monetário Internacional (FMI), tem procurado dissuadir a oposição de países em desenvolvimento à sua candidatura prometendo que eles serão razoavelmente representados no alto escalão do fundo.

Lagarde, que na quarta-feira lançou sua campanha para assumir o comando do FMI, fez a promessa ao preparar-se para uma turnê pelas capitais de mercados emergentes visando persuadi-los de que um europeu deveria mais uma vez ocupar o posto mais alto no mundo financeiro mundial.

No início desta semana, Brasil, Rússia, Índia, África do Sul e China assinaram uma declaração conjunta pedindo o fim "da convenção não escrita e obsoleta segundo a qual o diretor-gerente do FMI deve ser um europeu". Desde sua fundação em 1947, o FMI sempre foi dirigido por um europeu, muitos dos quais têm sido franceses.

Em entrevista, Lagarde reconheceu ter havido queixas de muitos dos membros emergentes no Fundo sobre a falta de gerentes em posições elevadas originários de seus países.

"Se é verdade, e é possivel que assim seja... eu certamente aplicaria os princípios que, em minhas funções anteriores apliquei à questão do sexo (dos técnicos)", disse ela, referindo-se à sua longa prática de preferir nomear mulheres a homens, quando ambos são igualmente qualificados.

"Eu gostaria de corrigir a situação", acrescentou ela. "Para as posições de alto nível, necessitamos representação adequada com base em mérito que reflita a diversidade de nacionalidades e de formações acadêmicas".

Lagarde, que passou seis anos em Chicago comandando a Baker & McKenzie, uma firma de advocacia americana, impôs-se rapidamente como candidata principal ao cargo, e os países em desenvolvimento ainda não conseguiram unir-se em apoio a um candidato.

O principal rival de Lagarde parece ser Agustín Carstens, presidente do banco central mexicano, formado pela Universidade de Chicago. Carstens, disse que pretende ser "porta-bandeira dos mercados emergentes".

Lagarde disse estar consciente de que teria de convencer os mercados emergentes de que não representaria os interesses europeus, caso seja nomeada. Mas também não favoreceria os países em desenvolvimento, a menos que houvesse uma clara necessidade.

"Não acho que eu deveria representar nenhum grupo ou região em particular. Eu deveria servir a toda a instituição", disse ela.

Ainda assim, existe uma necessidade de implementar reformas já em curso, o que refletiria melhor o peso econômico dos membros de mercados emergentes no FMI.

"Existe uma fórmula usada para calcular os direitos de voto. Essa fórmula está sob apreciação e precisa ser revista", disse ela.

A ministra das Finanças francesa disse que talvez ainda mais possa ser feito. Ela pretende "explorar o que mais é necessário e como o Fundo pode melhor satisfazer seus interesses".

A primeira preocupação de Lagarde será responder às preocupações dos países do Brics que divulgaram a declaração na noite de terça-feira, amplamente vista como uma "reprimenda pública", depois que um ministro júnior francês disse que a China havia dado seu apoio candidatura de Lagarde. "É evidente que foi manifestada certa frustração", disse ela. "Quero discutir (essas reservas) em conversas com cada país. Eu me disse disponível (para isso) desde domingo."

Mas ela também terá enfrentar a nuvem de incerteza que paira sobre sua candidatura como resultado de uma eventual investigação judicial visando apurar se ela ultrapassou sua autoridade como ministra em uma disputa legal com Bernard Tapie, em 2008.

Membros do Partido Socialista, de oposição, bem como da Promotoria Pública, pediram a abertura de um inquérito judicial para decidir se ela agiu corretamente ao aceitar uma arbitragem com força de lei, que obrigou o Estado a pagar 285 milhões de euros a Tapie, um partidário do presidente francês, Nicolas Sarkozy, que tentará uma reeleição no próximo ano.

Lagarde descartou o risco de uma investigação total. "Diferentes pessoas, por todo tipo de razões políticas, estão tentando transformar (a questão) numa grande ameaça. Alguns membros socialistas do Parlamento estão engendrando isso e é coisa de campanha pré-eleitoral."

A combativa Lagarde disse que ela e o governo francês solicitaram um parecer jurídico e estão confiantes. "O presidente está 100% confiante. Eu estou 100% confiante. Qual é o grau de ameaça desse caso? Zero."