Título: Divergências entre os Brics impedem nome alternativo
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 27/05/2011, Internacional, p. A11

De Washington

As economias emergentes reunidas nos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) fecharam uma posição comum para criticar o processo de seleção do dirigente máximo do Fundo Monetário Internacional (FMI), que perpetua europeus no cargo, mas as divergências de interesses entre os países impedem que seja selecionado um forte candidato único representando o grupo.

Entre os emergentes, afirma uma fonte brasileira de um organismo multilateral de Washington, o sul-africano Trevor Manuel é considerado um dos candidatos mais fortes para se opor à ministra das Finanças da França, Christine Lagarde, numa eventual disputa. Sua situação é curiosa: ele tem bastante trânsito entre os países desenvolvidos, inclusive europeus, mas não é capaz de obter apoio dos emergentes.

"Os europeus adoram a ideia e talvez estivessem dispostos a ter um africano no FMI, se as negociações estiverem difíceis para eleger um europeu", afirmou a fonte. Manuel foi escolhido para comandar a comissão de notáveis que propôs mudanças na governança do FMI. É considerado um economista "progressista", atendendo uma dos requisitos definidos pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, para apoiar alguém. Mas o Brasil tem restrições ao seu nome porque não concordou com todas as propostas de reforma do FMI apresentadas por ele.

A China, por outro lado, tem mostrado pouco empenho para apoiar um candidato de um país emergente para suceder o ex-diretor-gerente do FMI Dominique Strauss-Kahn. Pode ser apenas o estilo dos chineses, sempre bastante discretos no encaminhamento de sua agenda. Mas as suspeitas são de que a China está, na verdade, interessada em emplacar o atual assessor especial do FMI, Min Zhu, no segundo ou terceiro postos mais importantes do organismo. O cálculo político dos chineses seria de que os Estados Unidos não vão entregar, num momento em que pressionam pela valorização do yuan, o comando do FMI ao país asiático.

O Brasil também não tem um candidato de peso para o topo do FMI. O nome mais lembrado é o de Armínio Fraga, mas fontes do Palácio do Planalto já indicaram que o governo petista não irá apoiar alguém historicamente vinculado aos governos tucanos. No caso do Brasil, a ausência de um candidato único dos emergentes para o comando do FMI também abriria a oportunidade para pleitear o segundo ou terceiro cargos mais importante. Nesse caso, um nome que circula aqui em Washington é o do ex-representante brasileiro no FMI Eduardo Loyo. É um economista da linha mais conservadora, ex-diretor do BC, mas que defendeu os interesses de ampliação da representação dos emergentes no FMI e mantém uma ótima relação com o atual representante brasileiro no Fundo, Paulo Nogueira Batista Júnior.

Nesta semana, uma declaração conjunta dos representantes dos Brics no FMI afirmou que uma escolha de dirigentes feitas com base na nacionalidade "mina a legitimidade do Fundo".

A Rússia vem dando declarações desencontradas sobre seu candidato. Anteontem, o embaixador russo na França disse gostar de Christine Lagarde. Ontem, o ministro das finanças da Rússia, Alexei Kudrin, afirmou que não há candidato dos Brics por enquanto, mas ele não descarta essa hipótese. Antes, a Rússia havia indicado que poderia apoiar o presidente do Banco Central do Cazaquistão, Grigory Marchenko.

A Índia chegou a sugerir a candidatura do chefe da comissão de planejamento do país, Montek Singh Ahluwalia, que despertou algumas simpatias entre as autoridades brasileiras, mas o nome foi abandonado pelos próprios indianos por ser considerado muito velho para ocupar o cargo.

O único país emergente a apresentar formalmente um candidato até agora é o México, com Agustin Carstens. Mas não despertou muito entusiasmo entre os emergentes, sobretudo o Brasil, que o considera um economista com visão conservadora. O Brasil, porém, estaria mais inclinado a apoiar um conservador de país emergente do que Lagarde, uma conservadora da Europa.