Título: Brasil tende agora a apoiar Lagarde para o FMI
Autor: Otoni, Luciana
Fonte: Valor Econômico, 30/05/2011, Internacional, p. A9

De Brasília

O governo brasileiro tende a apoiar a ministra das Finanças da França, Christine Lagarde, para o cargo de diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), em substituição a Dominique Strauss-Kahn.

Oficialmente, porém, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, só se pronunciará após os encontros de hoje com ela e o de quarta-feira com o presidente do Banco Central do México, Agustín Carstens, que também disputa o comando do FMI.

Lagarde tem mais "currículo" do que Carstens, segundo avaliação de um alto funcionário da área econômica do governo brasileiro, e deve ser escolhida por "mérito".

Mantega quer, primeiro, averiguar qual o compromisso da ministra francesa com as reformas da instituição e com a defesa de uma maior participação dos países emergentes na direção do fundo.

O Brasil tem três interesses claros nesse assunto, segundo uma fonte: eliminar o critério da permanência de uma autoridade europeia no comando do FMI; reduzir a participação da Europa na composição do conselho da instituição, transferindo uma de suas representações para um país emergente; e tornar a composição do secretariado do fundo - concentrada entre ingleses, americanos e canadenses - acessível a um maior grupo de nacionalidades.

O Brasil também insiste que a eleição de agora seja para um "mandato-tampão", destinado a concluir a gestão de Strauss-Kahn, que se encerraria no fim de 2012.

A intenção de Mantega, no encontro de hoje, em Brasília, é expor a Lagarde as condições do apoio brasileiro para colher o grau de comprometimento da candidata europeia com as posições defendidas pelos emergentes.

Na semana passada, ao defender Lagarde, o presidente da França, Nicolas Sarkozy disse que a Europa já fez muitas concessões aos emergentes no fundo.

O Brasil vinha até então resistindo a aceitar Lagarde porque sua eleição poria novamente o FMI sob o comando de um europeu - algo tem acontecido desde a criação da instituição graças a uma regra combinada entre Europa e EUA. A posição brasileira era que o fundo deveria agora ser dirigido por alguém de um país emergente.

O fato de a candidata francesa ter escolhido o Brasil como o primeiro país de sua turnê para pedir apoio foi interpretado pelo governo brasileiro como sinal de prestígio do país. "É importante que ela não se apresente como uma candidata europeia. Queremos ver até que ponto estará disposta a assumir compromissos com a reforma do FMI", disse o integrante da área econômica. "Queremos saber qual é a plataforma de campanha dela."

Além do Brasil, Lagarde deve visitar países do Oriente Médio também para pedir votos.

Após a conversa de hoje com a ministra francesa - que também se encontrará com o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, - Mantega se reúne na quarta-feira com Agustín Carstens, que está na disputa pelo comando do FMI. O mexicano, contudo, não é visto como um candidato forte.

O peso da escolha do novo diretor está nas mãos da Europa e dos Estados Unidos, que detém 32% e 16,7% dos votos, respectivamente. Tudo indica que os americanos votarão em Lagarde, mantendo a tradição de ter um europeu no FMI e um americano no Banco Mundial. Na quinta-feira, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, deu um sinal claro da preferência de Washington ao dizer que o governo vê com bom olhos "mulheres que são bem qualificadas e experientes para comandar grandes organizações como o FMI".

Na sexta, o presidente russo, Dimitri Medvedev, manifestou apoio a Lagarde e ontem, o chanceler da França, Alain Juppé, disse que todos os países do G-8 - bloco das maiores economias do mundo mais a Rússia - apoiam a francesa. O Brasil não tem poder de decisão nesse tema, mas é importante que a candidatura à direção do fundo tenha o máximo possível de apoio dos países membros.

O FMI readquiriu relevância no pós crise global de 2008, e está sendo importante no resgate de economias da Europa como Grécia, Irlanda e Portugal. Até o mês passado, os países europeus detinham praticamente 80% dos créditos concedidos pela instituição. Há cerca de dez dias aprovou um empréstimo de US$ 36,8 bilhões para Portugal, como parte de um pacote de US$ 78 bilhões para socorrer aquele país. (Com agências internacionais)