Título: Petistas temem avanço do PMDB sobre a coordenação política do governo
Autor: Junqueira, Caio
Fonte: Valor Econômico, 14/06/2011, Política, p. A6
De Brasília
O fortalecimento do PMDB, após a primeira crise do governo da presidente Dilma Rousseff, é o motivo alegado por líderes do PT, expressivos na bancada da Câmara dos Deputados, para continuar a disputa interna por poder. Os petistas agora estão divididos entre os que acham que é preciso conter o crescimento do principal aliado dentro do governo e os que avaliam que, sem a sigla, o futuro dentro do Congresso e nas eleições de 2012 e 2014 é incerto.
Nesse sentido, dois dos principais eventos políticos que se aproximam têm feito crescer a tensão interna: as eleições municipais e a sucessão da presidência da Câmara, em fevereiro de 2013. Para piorar, a divergência de opiniões sobre o papel do partido do vice-presidente Michel Temer no governo reflete as recentes disputas dentro da bancada.
Deputados ligados ao grupo do presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), do ex-presidente Arlindo Chinaglia (SP) e do líder Paulo Teixeira (SP), avaliam que o PMDB saiu fortalecido da crise que rondou o Palácio do Planalto nas últimas quatro semanas e que é preciso que a nova coordenação política do governo imponha freios aos pemedebistas.
Isso seria feito deixando bem claro que apenas quatro instâncias da República têm o direito a negociar com o Congresso: a Presidência, a Casa Civil, a Secretaria de Relações Institucionais e as lideranças do governo, a partir das orientações do Planalto.
"A Vice-Presidência não pode ser o centro da política. O Palácio do Jaburu [residência oficial do vice-presidente] não pode ser o local em que tudo o que vier a ser feito no Congresso será decidido", disse ontem ao Valor um petista desse grupo, durante a cerimônia de posse da nova ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti.
Por essa linha de raciocínio, "o fortalecimento do PMDB não pode implicar no enfraquecimento do PT". "Todo movimento que qualquer partido aliado faça tem que ser muito cuidadoso, porque não pode levar ao enfraquecimento de outro. Mas o PMDB parece não se importar com isso", relatou esse petista.
Por essa razão, há queixas quanto às movimentações do grupo contrário rumo ao PMDB, conduzido pelo líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), e pelo também ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP). Seus integrantes acreditam que o tamanho do aliado no governo é menor do que sua real dimensão, que o governo Dilma só terá sucesso e condições de reeleição se andar muito próximo a Temer e seus correligionários, que em 2012 petistas e pemedebistas devem se aliar no maior número possível de municípios e, principalmente, que qualquer tentativa de rompimento de acordo no que se refere à presidência da Câmara em 2013 é suicídio político.
Pelo trato dos dois partidos, Marco Maia foi eleito neste ano para o posto máximo na Câmara na condição de que o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), seja seu sucessor para o biênio 2013-2014. No entanto, a atuação de Alves na votação do Código Florestal - em defesa da emenda que derrotou o projeto ao qual o Palácio apoiava - resultou no anseio de alguns petistas em quebrar esse acordo. Chinaglia é citado como um possível nome "alternativo".
Assim, o périplo de Vaccarezza na quinta-feira da semana passada aos gabinetes do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e do líder da legenda no Senado, Renan Calheiros (AL), buscando apoio para ser o ministro da articulação política, foi visto como uma rota "perigosa" e "atabalhoada", por meio da qual um petista colocou como condição para a sua pretensão de ser ministro a necessidade de obter um aval de pemedebistas. Com o agravante de que toda exposição não resultou em nada concreto.
Nesse cenário, a expectativa é que a nova coordenação política do governo estabeleça os rumos que a parceria com o PMDB deve tomar, a partir das orientações da presidente Dilma. O receio, contudo, é que haja divergência inclusive entre o que pensa Dilma a respeito e o que ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva acredita ser o melhor caminho.