Título: Dilma assume a prioridade da política
Autor: Junqueira, Caio
Fonte: Valor Econômico, 14/06/2011, Política, p. A7

De Brasília

Depois de quase um mês de crise, a presidente Dilma Rousseff assumiu, ontem, que a política tem prioridade e é a condutora dos passos dos governo. Em rápido discurso na cerimônia de posse da nova ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, e do novo ministro da Secretaria da Pesca, Luiz Sérgio, desestabilizado da coordenação política por não tê-la exercido a contento, a presidente renovou seus conceitos. Equiparou seu conhecido apreço à técnica à política, citou valores que considera fundamentais para o exercício da política e mencionou em quais pontos seu governo, até agora, exerceu-a. "Do meu ponto de vista, não existe dicotomia entre um governo técnico e político. Valorizo muito a capacidade técnica e a gestão eficiente, até porque nenhum país do mundo conseguiu elevado padrão de desenvolvimento sem eficiência nas atividades governamentais e absorção das técnicas mais avançadas disponíveis. Mas, simultaneamente, tenho a convicção de que as decisões políticas constituem a base das opções governamentais", disse a presidente.

Ela afirmou considerar fundamentais na atividade política a "capacidade de diálogo, senso de justiça e ética, correção, eficiência e lealdade" e que "a política qualificada e ancorada nos interesses do país e do nosso povo se traduz no respeito à soberania, à democracia que construímos superando o arbítrio, à Federação, aos movimentos sociais e à melhoria de vida da população".

Disse também que "a afinidade do meu governo com a política se manifesta no imenso respeito pelo Congresso e pelo Poder Judiciário" e que "a importância que meu governo atribui à atividade política se reflete na compreensão de que as grandes transformações necessárias ao desenvolvimento econômico e social do Brasil só podem nascer da negociação, da articulação de interesses e da nossa capacidade de identificar afinidades e convergências onde, à primeira vista, só parece existir conflito e diferença".

Concluiu com um aceno à sua grande base aliada no Congresso: "O governo não é só o Poder Executivo, mas a ampla coalizão que soubemos pactuar e que representa, antes de mais nada, o povo que nos elegeu."

Com isso, Dilma tenta inaugurar uma nova fase na coordenação política. A expectativa é que agora haja maior diálogo com parlamentares da base e atendimento a suas demandas, em especial as nomeações e a liberação de emendas parlamentares. Só para esta semana é esperada a transferência de R$ 250 milhões para prefeitos. Ontem alguns cargos começaram a ser destravados, como a nomeação de Luciano Santanna para exercer o cargo de Superintendente de Seguros Privados (Susep).

Para obter melhor relacionamento com a base, Ideli, no discurso de posse, afirmou que os oito anos no Senado que lhe deram a fama de dura e inflexível na defesa dos interesses do governo ficaram no passado. Passou a maior parte do pronunciamento refazendo a biografia de inflexível e ríspida. "A Ideli dos oito anos no Senado cumpriu tarefas e responsabilidades diferentes das que inicio hoje. Serei firme nos princípios e afável na abordagem", disse.

Nesse sentido, prometeu muito diálogo com os parlamentares. "Cada projeto em tramitação no Congresso, abrirei um canal de comunicação onde a argumentação será a arma dos que desejam de fato contribuir para a aprovação dos grandes temas nacionais. Meu trabalho será o de conversar, negociar! Todos, governo e oposição, podem e devem contribuir para viabilizar a boa relação entre o Legislativo e Executivo."

No primeiro dia como ministra, porém, Ideli dedicará a maior parte da sua agenda ao PMDB, e não ao PT, cuja pacificação foi tarefa a ela atribuída pela presidente. Encontra o vice Michel Temer, o presidente do Senado, José Sarney (AP), e o líder do governo no Senado, Romero Jucá (RR). Também almoça, junto com Dilma, com senadores do PR.

O secretário-executivo das Relações Institucionais, Cláudio Vignatti, afirmou ontem ao Valor que permanecerá no cargo. Mas fontes do PT ainda acham difícil a coexistência com Ideli. Ambos quase romperam as relações políticas durante as eleições catarinenses. Em Brasília passaram a brigar pelas nomeações de cargos federais no Estado. (Colaborou Mauro Zanatta)