Título: Brasil posterga decisão sobre FMI
Autor: Otoni, Luciana
Fonte: Valor Econômico, 14/06/2011, Finanças, p. C5

De Brasília

O governo brasileiro decidiu postergar o anúncio do nome do candidato que apoiará ao comando do Fundo Monetário Internacional (FMI). O objetivo é ganhar tempo até o próximo dia 30, data da eleição ao cargo de diretor-gerente do organismo internacional, para concluir a consulta aos ministros de Finanças das economias emergentes e verificar a conveniência ou não de se negociar uma adesão em bloco desses países a uma das três candidaturas apresentadas.

Ontem, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, preferiu não mostrar que tem favorito. "Estou discutindo com outros ministros para termos uma posição mais conjunta", declarou. "O Brasil ainda não tem posição sobre o FMI, estamos avaliando os candidatos e, no momento certo, vamos decidir."

Desde a semana passada, Mantega vem sondando autoridades da Rússia, Índia, China e África do Sul e países latino-americanos, a exemplo da Argentina. Enquanto ganha tempo para verificar se convém apoiar a ministra de Finanças da França e líder da disputa, Christine Lagarde, que conta com o apoio quase integral dos países europeus, o governo brasileiro vem salientando que a decisão será baseada no mérito.

O Ministério da Fazenda cita como critérios relevantes o compromisso do próximo diretor-gerente com a continuidade das reformas na instituição e a seleção do candidato que for favorável à maior participação das economias emergentes no staff do Fundo.

Em relação às reformas em curso, no fim 2010 foi aprovada a segunda mudança na estrutura da instituição, tendo por consequência a redistribuição das cotas. Com isso, a participação brasileira passa de 1,8% para 2,3%. De maneira geral, os países em desenvolvimento ganham 5,5% e os desenvolvidos perdem esse percentual em termos de participação. A efetiva modificação na estrutura da distribuição de cotas depende, no entanto, de ratificação. Na última sexta-feira, prazo final para apresentação das candidaturas, o presidente do Banco de Israel, Stanley Fischer, oficializou seu nome na disputa. Além dele e de Christine Lagarde, o cargo de diretor-gerente do Fundo é pleiteado também pelo presidente do Banco Central do México, Agustín Carstens.

Em meio a esse processo, o Brasil vem adequando seu discurso. Após o lançamento da corrida sucessória, Mantega defendeu que a eleição fosse restrita ao período restante da gestão de Dominique Strauss-Kahn para que as atribuições do Fundo, a temática da reforma e da maior participação dos emergentes fossem discutidas sem a pressão da disputa. Mas as reações a essa proposta foram de que um mandato-tampão seria fator adicional para fragilizar o FMI, posicionamento que levou o governo brasileiro a abandonar a ideia.