Título: Moradores aprovam modelo da Cohab
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Fonte: Valor Econômico, 15/06/2011, Brasil, p. A4
O "impostômetro" da Associação Comercial de São Paulo na rua Boa Vista, centro paulistano, marca R$ 600 bilhões arrecadados de janeiro a 31 de maio deste anos pelas esferas municipal, estadual e federal. Poucos metros dali, na rua Senador Feijó, Magda Dandréia Coro conta sentada no sofá de três lugares os resultados de sua luta por moradia. "Sabemos o quanto pagamos de impostos, e temos o direito de ter casa para morar."Magda mora há dois anos com duas filhas, de 15 e 17 anos, no apartamento reformado da Companhia Metropolitana de Habitação (Cohab) no prédio Senador Feijó, um antigo hotel da década de 30. Paga R$ 113 de aluguel na casa com dois quartos, o segundo construído com uma divisória de gesso na sala, mais sala, cozinha, banheiro e área de serviço, em 45 metros quadrados. "Eu acho aqui lindo", diz com satisfação.
Magda já é a segunda geração da família na luta por moradia. Desde os cinco anos, lembra de sua madrasta como ativista, e hoje faz parte da Unificação das Lutas de Cortiço (ULC). "Fico triste quando vejo as pessoas nos chamando de bardeneiros. Deveriam conhecer melhor a nossa realidade."
Mãe de três meninas - a mais velha, de 23 anos tem duas filhas e mora sozinha -, Magda tem jornada dupla. Trabalha 12 por 36 horas como recepcionista de uma clínica médica e durante o dia é auxiliar administrativa numa imobiliária. O salário somado fica em R$ 1,5 mil.
Há dois anos, antes de conseguir a locação social, o aluguel de um apartamento no Brás comprometia metade da sua renda, e Magda se endividou. "Qual a mudança hoje? Mudou muito. Até a minha alimentação, o modo da gente se vestir. Aqui é um degrau para a melhora", diz ela, que sonha poder financiar uma casa ao fim dos quatro anos de contrato com a Cohab.
A senhora Cícera Duarte, 62 anos, é vizinha de Magda. Vive com um filho de 39 anos, portador de deficiência, e com o neto de 19 anos, filho de sua segunda filha. Sergipana, chegou em São Paulo há 34 anos. Depois de migrar de casa em casa em busca do aluguel mais barato, hoje paga R$ 130 no apartamento de um quarto todo reformado e decorado com a ajuda da família.
"Estou feliz aqui. Estou comendo melhor e sinto gosto de chegar em casa e não atrapalhar ninguém", diz a copeira aposentada que sabe a realidade de morar na casa de parentes. A sala está cheia de vasos de orquídeas que ganhou no dia das mães. Cícera vive com uma aposentadoria de R$ 712. "Quero comprar uma casa ainda. Estou de olho, agora que temos que pagar menos de aluguel."
O condomínio também abriga quem vive a realização da sua primeira casa. Fernanda da Silva, 25 anos, e Dimer da Silva, 20 anos, se casaram há dois meses e estão mobiliando sua quitinete. Conseguiram comprar os eletrodomésticos. A próxima aquisição deve ser um guarda-roupas. "A casa é pequena, mas estamos conseguindo deixar do nosso jeito", conta Fernanda.
Com salários somados de R$ 1,6 mil, os dois pagam R$ 150 reais de aluguel. Formada em Recursos Humanos, Fernanda trabalha como operadora de telemarketing no centro. Dimer é funcionário de uma empresa de reciclagem na Mooca e estudou até a sexta série do ginásio. Diz que pensa em fazer supletivo para terminar os estudos. Ter casa para morar é apenas mais um degrau. (SM)