Título: No Brasil, Lagarde promete mais poder no FMI para emergentes
Autor: Leo, Sergio ; Otoni, Luciana
Fonte: Valor Econômico, 31/05/2011, Internacional, p. A10
De Brasília Candidata a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, ministra das Finanças da França, comprometeu-se com a ampliação do poder dos países emergentes no FMI e maior diversidade entre as nacionalidades dos técnicos da instituição. Lagarde iniciou, ontem, no Brasil, uma série de viagens por países emergentes, para defender sua candidatura, e suas declarações tocaram exatamente nos pontos levantados publicamente por autoridades brasileiras como indispensáveis para que o Brasil apoie um candidato ao comando do FMI. "Nas conversas que tive com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o ministro do Desenvolvimento (Fernando Pimentel) e o presidente do Banco Central (Alexandre Tombini), ouvi a preocupação com a continuidade das reformas no FMI", relatou Lagarde, ao fim da visita. "As reformas são a coisa certa a fazer e continuarão."
Lagarde desconversou ao lhe perguntarem se ela pretende negociar a nomeação de candidato de país emergente ao posto de vice-diretor-gerente - tradicionalmente ocupado por um americano e reivindicado, agora, pela China. Ela defendeu, porém, que se acelerem mudanças no fundo, para garantir maior poder de voto e representatividade aos emergentes, hoje sub-representados.
A visita aplainou o caminho para o apoio do Brasil a Lagarde, na sucessão no fundo, que tem outro candidato, o presidente do Banco Central mexicano, Agustín Carstens. Mantega e outras autoridades brasileiras não se entusiasmam com a candidatura do mexicano, a quem se atribui em Brasília pouco empenho para reformas no sistema de governança do FMI.
"Não há candidatura dos países emergentes neste momento", disse Mantega, numa indicação do pouco apreço pela candidatura de Carstens, que vem ao Brasil amanhã para pedir o apoio brasileiro.
Lagarde informou que Mantega não falou com ela sobre uma ideia até recentemente defendida pelo governo brasileiro, a realização de um mandato tampão, de dois anos, para completar o termo do ex-diretor-gerente Dominique Strauss-Kahn, que renunciou após ser preso acusado de abuso sexual de uma camareira de hotel, em Nova York. Mantega, ao falar à imprensa com Lagarde, também não quis tocar no assunto.
"Minha candidatura é pela realização das reformas", garantiu ela, após almoçar com Mantega. "Isso está muito ligado a modificações na governança para que permita maior representatividade de todos." Mantega disse, porém, que não vai declarar voto antes de 10 de junho, data para oficialização das candidaturas. "Ficaria surpresa se ele se manifestasse antes dessa data", comentou ela mais tarde.
Alertada pelas autoridades brasileiras que não seria bem visto apresentar-se como uma opção europeia, Lagarde insistiu que sua candidatura não deve ser tomada como um nome da Europa para ocupar, como tradicionalmente ocorre, a chefia do FMI; e repetiu palavras usadas por Mantega, como universalidade e transparência, ao comentar como pretende marcar sua gestão. "A nacionalidade do candidato não deve ser uma vantagem nem uma desvantagem" para a escolha do futuro dirigente do fundo, argumentou.
Mantega também minimizou a importância de vir de país emergente o futuro diretor-gerente do fundo. "Até acho desejável a alternância entre países avançados e emergentes no médio e longo prazo, mas acredito que a escolha seja feita mais pela qualidade e pela competência do que pela nacionalidade", argumentou.
Consciente das preocupações sobre a possível leniência de um diretor-gerente europeu em relação ao processo de ajuste das economias na Europa, Lagarde garantiu que quer reforçar o poder de monitoramento do FMI. A missão de monitoramento do fundo deve igualmente ter caráter universal, disse. "O monitoramento tem de se aplicar a todos os países, dos componentes macroeconômicos aos sociais, como o desemprego e as questões financeiras", afirmou.
Lagarde declarou que o prazo regular de revisão de cotas e da estrutura do FMI, de cinco anos, está se tornando grande demais para a velocidade das mudanças mundiais. "O mundo está indo mais rápido que esse ritmo de cinco em cinco anos", avaliou. "Tudo tem de ser ajustado (no FMI) e constantemente." O comentário faz eco às preocupações de Mantega, que lamentou a interrupção dos esforços de Strauss-Kahn para reformar e dar maior representatividade à estrutura da instituição.