Título: Belo Horizonte corre risco de superoferta após a Copa de 2014
Autor: Komatsu, Alberto
Fonte: Valor Econômico, 31/05/2011, Empresas/Serviços, p. B4

De São Paulo Belo Horizonte corre o risco de ter uma superoferta de quartos de hotéis após a realização da Copa do Mundo de Futebol de 2014. A constatação é da consultoria BSH, especializada em projetos hoteleiros. Levantamento feito por ela indica que a capital mineira poderá amargar baixas taxas de ocupação no ano seguinte à realização do evento. O cenário de superoferta hoteleira em Belo Horizonte leva em conta 25 empreendimentos que a BSH considera "sérios", com empreendedores e operadores com credibilidade. No total, a prefeitura da cidade tem registro de 44 projetos com previsão de inauguração de 2011 a 2014.

"Um nível adequado seria a construção de 45% a 60% dos 25 projetos. Muitos deles foram impulsionados por uma mudança numa legislação da prefeitura que permitiu que um hotel possa construir cinco vezes a área do terreno", diz o presidente da BSH, José Ernesto Marino Neto. O limite anterior para hotéis variava entre 1,5 e 2,5 vezes.

O consultor referiu-se à Lei 9.952, sancionada em 5 de julho de 2010, com o objetivo de estimular a construção de hotéis na capital mineira, que será uma das 12 cidades-sede da Copa e desde 2005 não recebeu nenhum novo hotel.

O presidente do Comitê Executivo da Copa do Mundo da Prefeitura de Belo Horizonte, Tiago Lacerda, diz que a lei não foi feita exclusivamente para estimular a construção de hotéis para a Copa. "Em Belo Horizonte há carência de hotéis de alto padrão. O território da cidade é pequeno e os terrenos são escassos", afirma.

Marino Neto, da BSH, diz que se todos os 25 empreendimentos forem construídos, o que exigiria um investimento de R$ 1,4 bilhão, a ocupação média dos hotéis de Belo Horizonte está projetada para se situar em 43,74% em 2015, com uma oferta de 9,5 mil quartos, mas demanda de 4,1 mil unidades. No ano passado, a taxa era de 68%, com oferta de 4,5 mil quartos e utilização de 3,6 mil unidades.

"A cidade precisa de mais oferta de hotéis, mas a questão é qual é o tamanho dessa oferta?", diz Marino Neto. Segundo ele, Belo Horizonte corre o risco de passar pela mesma situação de São Paulo há 10 anos, quando a cidade também teve uma superoferta de flats e projetos de hotéis que fizeram despencar taxas de ocupação e muitos empreendimentos quebraram.

Lacerda, do comitê da Copa, afirma não acreditar que isso vai acontecer, mas reconhece que os empreendimentos já existentes que não se modernizarem e se adequarem aos padrões internacionais de hotelaria estarão sujeitos à lei do mercado.

Segundo ele, a prefeitura tem registrado 14 projetos em construção e mais 30 em fase de licenciamento. Ele acredita que 30 projetos sairão do papel, com investimento de R$ 1,5 bilhão.

"Os novos projetos têm de obedecer regras de governança corporativa, com contratos que protejam o investidor", afirma o presidente da BSH. Na avaliação dele, os investidores devem ser remunerados pelo lucro e não pelo faturamento.

Em março, o Valor publicou estudo elaborado pelo Fórum de Operadores Hoteleiros (FOHB) indicando que além de Belo Horizonte, Salvador, Manaus, Cuiabá e Natal podem ter superoferta hoteleira em 2015.