Título: Crédito cresce 1,29% em abril, mas BC vê tendência de desaceleração
Autor: Travaglini, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 31/05/2011, Finanças, p. C2

De Brasília

O estoque total de crédito apresentou leve aceleração no mês de abril, quando comparado ao ritmo de março. Segundo dados do Banco Central (BC), o saldo total cresceu 1,29% em abril sobre o mês anterior, ritmo mais forte do que o observado em março, quando a expansão foi de 1,08%.

A recuperação, puxada mais uma vez por linhas chamadas de "emergenciais", como cartão de crédito e cheque especial, não deve ser vista como uma mudança na tendência de arrefecimento da oferta de empréstimo, segundo o chefe do Departamento Econômico do Banco Central (BC), Túlio Maciel. Para ele, o mercado ainda está sob influência das medidas macroprudenciais, adotadas pelo BC desde o fim do ano passado e também do processo de alta das taxas de juros (Selic).

No ano, o crescimento do estoque de crédito até abril é de 4,1%, para R$ 1,776 trilhão, ritmo que, anualizado, corresponde a uma expansão de cerca de 13%. Nas linhas com recursos livres, o passo é exatamente o mesmo, de 4,1% nos primeiros quatro meses, quando comparados ao patamar observado no fechamento do ano passado.

Maciel afirmou que o desempenho do crédito é adequado. Ele também acredita em moderação maior a partir do segundo semestre, à medida que a economia como um todo mostre desaquecimento mais pronunciado como reflexo da política monetária em curso.

A média diária de concessão cresceu 6,5% entre as empresas, resultado puxado pela recuperação das linhas de capital de giro (8,5%), e 7,1% entre as modalidades para as pessoas físicas. Nesse caso, houve uma forte aceleração nas concessões tanto do cheque especial (5,3%) quanto do rotativo do cartão de crédito (17,9%), linhas emergenciais, mais caras ao consumidor e tomadas em meio à maior seletividade das instituições financeiras e do aumento do endividamento da população. Em doze meses, o ritmo de expansão das concessões diárias é 14,7%.

De acordo com análise de Adriano Lopes, economista do Itaú Unibanco, a recuperação das concessões em abril segue em ritmo moderado, restrito pelo efeito das medidas macroprudenciais.

Já Thaís Zara, da Rosenberg Consultores Associados, diz que a desaceleração do crescimento do crédito ocorre de forma lenta. E que o mercado de crédito se estabilizou em patamar elevado, com expansão da pessoa física em torno 20% ao ano. Por causa disso, ela acredita ser difícil atingir o nível de expansão mirado pelo BC, abaixo de 15%.

Para que o crédito com recursos livres à pessoa física encerre o ano com uma expansão de 13%, como quer o BC, seria preciso uma taxa de expansão mensal do crédito bem menor que a vista nos últimos doze meses. "Deveria recuar de uma média de 1,9% ao mês, nos últimos seis meses, para 0,6% ao mês", diz Zara.

Em abril, o maior crescimento veio dos bancos privados, que registraram avanço de 1,4%. Os públicos cresceram 1,3%. Essa tendência pode ser revertida ao longo do ano, já que as instituições estatais não se mostram dispostas a reduzir as concessões.

Houve ainda um forte recuo das concessões do BNDES. No ano, o estoque teve expansão de 1,8%, até abril, contra 26,4% de crescimento registrado no ano passado - quando o banco de desenvolvimento puxou a expansão dos empréstimos do sistema financeiro. O estoque de crédito direto recuou 0,3% no mês. Os repasses apresentaram avanço de 0,65%, abaixo do ritmo do mês de março (1%).

Um efeito colateral da desaceleração do crédito é o aumento da inadimplência. Os atrasos acima de 15 dias entre as pessoas físicas, pularam de 5,3%, no fim do ano passado, para 6,6% em abril.

Segundo Maciel, do BC, esse avanço não preocupa, pois os atrasos não têm se convertido em inadimplência (acima de 90 dias) - que subiu menos, de 5,7% para 6,1%. "A expectativa é de um aumento muito discreto na margem, tendo em vista que estamos em um ciclo de alta dos juros", diz.